“Amour”
apresenta-nos um casal de octogenários, em que um se vê subitamente obrigado a
cuidar do outro, que se vai debilitando ao longo do tempo. Portanto, à partida, obriga-nos
a reflectir para além do envelhecimento, a debilidade, a doença e a morte.
Chega a ser um
filme emocionalmente muito depressivo, sobretudo para quem tenha passado por uma
experiência pessoal idêntica. Nesse ponto as excepcionais interpretações (sobretudo
as do casal... se bem que é sempre bom ver a Rita Blanco a fazer de porteira
prendada) são uma das grandes mais-valias da obra.
Por outro lado, “Amour”
poderia ser só uma bonita história de devoção, na terceira idade, como tantas
outras. Mas não o é porque temos que contar com as “impressões digitais” de
Michael Haneke. São quase imperceptíveis, mas estão lá todas: a crueldade, a
perversidade e o cinismo - para lá chegar é preciso compreender muito bem porque
ele guardou para cena final aquela em que a filha entra no apartamento, já “limpo”
e desabitado.
São “só” três características humanas que o realizador tão bem
conhece e tão bem reflecte no seu cinema. Mas quem quiser pode ficar-se só pela
história de amor incondicional, que já não fica mesmo nada mal servido.
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