Não é novidade
para ninguém. Portugal é um país especial para muita gente. Curiosamente (ou nem por isso), não
tanto para os portugueses que sempre por cá viveram e que acabam por ser um reflexo
do "estado de alma" da sua economia, como para os estrangeiros, nomeadamente, os
artistas que andam à procura de um certo “empurrão” no seu método criativo. Mais
do que o Sol, a Caparica, as sardinhas ou os Jerónimos, talvez seja esse nosso lado
mais imperfeito, deprimente ou decadente que serve agora de inspiração a estes
artistas contemporâneos.
Ainda no ano
passado tivemos o caso de Grouper, aka Liz Harris, que se refugiou em Aljezur
para gravar, com o mínimo de condições, o seu mais recente (e belíssimo) disco.
Sublinho o que disse ela sobre esse processo de gravação:
A obra,
entitulada justamente por “Ruins”, acabou por ser, como ela almejava, um
reflexo dos locais por onde passeou e, sobretudo, da solidão de uma casa perdida
algures num monte do Alentejo.
O mais recente artigo da Pitchfork começa mais ou menos assim: “Por uma década, Noah Lennox tem vivido dentro do brilho e sombra de Lisboa”. Pois é, “o” Panda Bear, ex-membro dos Animal Collective, já é um artista residente e, certamente, tudo o que foi vendo e adquirindo nos últimos anos está reflectido nas suas obras.
Destaca-se deste
artigo uma paixão por uma cidade renascida de um sismo e por um país com
muitas cicatrizes do passado:
São as
nossas irregularidades que captam a atenção de Mr. Noah. Das Torres das Amoreiras... aos
surfistas desajeitados:
Quem diria que são
portanto todos essas falhas e limitações que nos tornam tão populares e
inspiradores! Portugal (e os seus portugueses) não é assim tão diferente de qualquer outro país, mas às tantas são alguns desses pequenos e amáveis defeitos,
tão condenáveis e tão humanos, que torna este país acolhedor e onde um estrangeiro mais facilmente se reconhece. Tendo
em conta os resultados finais (este último disco de Panda Bear também é estupendo), talvez deva até sentir algum orgulho deste país que me viu nascer.
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