quarta-feira, novembro 14, 2007

E se eu fosse trabalhar por conta de uma “galinha serial killer”?

Recebi uma proposta de emprego para trabalhar na Tabaqueira. Sem anúncios, sem envio de currículos, sem entrevistas. O inesperado convite de um ex-colega surgiu assim (quase) do meio do nada. E foi feito à frente de dois actuais colegas de trabalho. Por tal, não passou um dia e já metade da restante empresa estava ao corrente da situação. Houve quem não se fizesse rogado em vir logo dar-me os parabéns: que não pensasse duas vezes em decidir aceitar a oportunidade. E “oportunidade” é a palavra certa, pois, diz-se, que não é fácil entrar para os quadros de qualquer empresa do grupo Philip Morris, aliás, também diz-se, que os processos de selecção da Tabaqueira são do mais penoso e exigente que há, só mesmo superados (a nível de grau de dificuldade) pelos da Microsoft. Mas, curiosamente ou não, a maioria das interpelações que recebi vieram no sentido inverso. “Xiii, para a tabaqueira? Uma empresa que produz autênticos atestados de óbito em série?”, “Eticamente nunca aceitaria um lugar desses, nem por 1000 contos por mês”, “... se alguém da tua família fosse atropelado por um comboio irias trabalhar para a CP?”(?), “Uns verdadeiros assassinos em potência!”. “E uma verdadeira galinha de ovos de ouro para o nosso estado”, repostou alguém. “Que seja uma galinha serial killer, mas que de facto é uma bela fonte de riqueza nacional, lá isso é” pensei e completei eu. Ouvi de tudo, uns mais exagerados, outros mais apocalípticos. Bom há que em primeiro lugar perceber bem que quem lá trabalha não tem propriamente a função de enfiar os cigarros boca-a-dentro dos consumidores. E sim, a nicotina cria dependência. O álcool também, mas garantidamente não criaria tanta celeuma entre os meus colegas se esta proposta de trabalho viesse da Unicer.
Fiquei em ponderar melhor sobre o assunto. Comecei por pensar sobretudo na empresa para a qual trabalho actualmente. Uma multinacional pouco conhecida em Portugal e um pouco mais em outros países da Europa, na Ásia e Austrália. Mas, uma das grandes nos “States” (ficou no top 20 das maiores empresas americanas da "business-qualquer-coisa"). Por cá tem tido um progresso modesto mas consistente. Impostos, débitos e salários em dia, lucros razoáveis. Nada a declarar, por aqui, portanto. Entretanto, alargo o meu ponto de vista e chego a áreas de negócio em que somos dominadores no mercado norte-americano mas temos quota de mercado nula ou inexpressiva em Portugal. Ocorreu-me logo a (inevitável) actividade “aeroespacial”. Se ficássemos só pela contribuição com sistemas e peças para colocar aviõezinhos e naves americanas a voar e a ir à lua, respectivamente, dava-me por satisfeito e o assunto morria aqui. Mas não. Provavelmente 90% dos empregados portugueses desta empresa não sabem, nem querem saber (os restantes que sabem também não querem saber), que os aviões, helicópteros, radares, sistemas antimísseis que a força aérea americana usou e usa nas suas guerras tem material “nosso”. Sendo assim, que legitimidade terei eu (ou qualquer outro empregado desta empresa) para apontar o dedo e acusar um trabalhador de uma tabaqueira por falta de ética?

1 comentário:

Anónimo disse...

oi,
trabalho perto da tabaqueira e gostava muito de entrar la pois ouço dizer que se ganha muito bem.
Diz-me como entrar ou quais as empresas que tem pessoal la para que possa ter a oportunidade de trabalho.
Resp p meu mail luismaciel@vodafone.pt

muito obrigado.