Tu sentes-te confortável comigo, Tomás?
A pergunta arrepiou-me por sentir que ultrapassava a realidade da peça que via. Assistia a: “A Gorda” (Fat Pig, escrita pelo americano Neil LaBute), que está em cena no renovado Teatro Villaret, em Lisboa, até 1 de Junho. Relata a história de Tomás (Ricardo Pereira), um rapaz magro e elegante, um yuppie dos nossos tempos, que se atrai e apaixona por uma rapariga gorda, Helena (Carla Vasconcelos), bem como todas as respectivas peripécias em volta deste relacionamento. Obviamente que o assunto principal desta peça passa pela forma como ambos reagem ao verem-se confrontados com os preconceitos da sociedade contemporânea, obcecada com a imagem, que rejeita todos quanto fujam aos padrões de beleza instituídos.
Uma tragicomédia. Há muitos momentos humorísticos, sobretudo com as intervenções de Castro (Carlos António), o amigo e colega de escritório de Tomás, sexualmente activo e muito exigente face ao sexo oposto; mas também há momentos dramáticos quando o casal é confrontado com a realidade e os estigmas do meio social envolvente. É, inclusive, este realismo cruel que torna esta peça incómoda. Porque uma relação só adquire realidade se tiver uma face social, caso contrário não passa de uma fantasia a dois. Não é fácil de assumir e tornar visível um relacionamento que não seja socialmente bem visto, pois teme-se a responsabilidade que advém dessa parte social. Daí a importância da pergunta que saiu da boca de Helena, ao perceber que o seu companheiro evitava aparecer publicamente com ela, em locais onde poderia ser reconhecido por amigos e colegas de trabalho: “Tu sentes-te confortável comigo, Tomás?” Ela parecia adivinhar a resposta dele pois tinha perfeita consciência da sua condição física e até brincava com ela (“gozando com eles é uma forma de contornar os nossos problemas”). O que ela certamente não estaria à espera era do seu depoimento confessional final, quando Tomás assume toda a sua fraqueza e incapacidade de levar o relacionamento adiante.
Personagens estereotipadas e superficiais, realismo cultural americano, problemas universais (preconceito, falta de princípios e de “tomates” para assumi-los, fraqueza das convicções). É sobretudo disto que é feito esta recomendável peça.
A pergunta arrepiou-me por sentir que ultrapassava a realidade da peça que via. Assistia a: “A Gorda” (Fat Pig, escrita pelo americano Neil LaBute), que está em cena no renovado Teatro Villaret, em Lisboa, até 1 de Junho. Relata a história de Tomás (Ricardo Pereira), um rapaz magro e elegante, um yuppie dos nossos tempos, que se atrai e apaixona por uma rapariga gorda, Helena (Carla Vasconcelos), bem como todas as respectivas peripécias em volta deste relacionamento. Obviamente que o assunto principal desta peça passa pela forma como ambos reagem ao verem-se confrontados com os preconceitos da sociedade contemporânea, obcecada com a imagem, que rejeita todos quanto fujam aos padrões de beleza instituídos.
Uma tragicomédia. Há muitos momentos humorísticos, sobretudo com as intervenções de Castro (Carlos António), o amigo e colega de escritório de Tomás, sexualmente activo e muito exigente face ao sexo oposto; mas também há momentos dramáticos quando o casal é confrontado com a realidade e os estigmas do meio social envolvente. É, inclusive, este realismo cruel que torna esta peça incómoda. Porque uma relação só adquire realidade se tiver uma face social, caso contrário não passa de uma fantasia a dois. Não é fácil de assumir e tornar visível um relacionamento que não seja socialmente bem visto, pois teme-se a responsabilidade que advém dessa parte social. Daí a importância da pergunta que saiu da boca de Helena, ao perceber que o seu companheiro evitava aparecer publicamente com ela, em locais onde poderia ser reconhecido por amigos e colegas de trabalho: “Tu sentes-te confortável comigo, Tomás?” Ela parecia adivinhar a resposta dele pois tinha perfeita consciência da sua condição física e até brincava com ela (“gozando com eles é uma forma de contornar os nossos problemas”). O que ela certamente não estaria à espera era do seu depoimento confessional final, quando Tomás assume toda a sua fraqueza e incapacidade de levar o relacionamento adiante.
Personagens estereotipadas e superficiais, realismo cultural americano, problemas universais (preconceito, falta de princípios e de “tomates” para assumi-los, fraqueza das convicções). É sobretudo disto que é feito esta recomendável peça.