quarta-feira, janeiro 30, 2013

Por um Norte sem desnorte



Muito se falou em tirar outros proveitos económicos do nosso mar, para além da pesca e do turismo algarvio, mas foi preciso vir alguém de fora (patrocinado por alguém de dentro) para nos dar uma lição de como fazer bem as coisas.

Eu até tenho medo de perguntar: quando é que os governantes deste país vão perceber que se realizarem as obras de ordenamento da costa em prol da criação de spots de surf estão a criar uma mina de ouro para o pais?

O problema é que há muito boa gente com responsabilidades sobre o assunto que entende (ou lhe é feito entender a troco de "qualquer coisa") que essas "obras de ordenamento da costa" também podem ser sinónimo de "aprovação da licença de construção de um grande condomínio fechado com vista para o mar". Veja-se um caso recente que se passou na zona da Ericeira.

O que os nossos governantes devem entender, antes demais ou antes de assinar seja lá o que for, é que a razão que leva os turistas a visitarem este tipo de zonas é, precisamente, a natureza, no seu estado mais puro. Se é para verem aglomerados de betão - mesmo aqueles que dizem que ficam muito bem enquadrados na paisagem - aposto que preferem ficar lá na terra deles.

Se por um lado acho toda esta publicidade gratuita à Nazaré ou, para ser mais específico, à Praia do Norte, devido às grandes proezas do McNamara (com respectivo patrocínio da ZON), muito positiva para a zona. Por outro, temo o pior. E o pior não é a especulação (e exploração) imobiliária na Nazaré e, já por falta de espaço desta, do Sítio, pois isso é um dado mais que adquirido desde há muitos anos para cá. O que me preocupa verdadeiramente é que toda aquela zona de vegetação que protege uma das mais bonitas praias “selvagens” deste país comece a ser posta em causa... E isso, depois do que tenho visto por lá, sinceramente, acho que já esteve muito mais longe de acontecer.

domingo, janeiro 27, 2013

O que (não) se aprende com os erros do passado?



As causas do mais recente flagelo numa discoteca de Santa Maria, Rio Grande do Sul (Brasil) não são muito diferentes das que provocaram idênticas tragédias em Buenos Aires (Argentina), em Perm(Rússia) ou em Rhode Island (EUA). Não é preciso ser especialista da temática para concluir que fazer "experiências" pirotécnicas em espaços fechados só pode dar “besteira”, no entanto parece que os mesmos erros sucedem-se. Nos próximos dias, certamente, muito falar-se-á das questões de segurança no locais de diversão nocturna e depois tudo ficará na mesma e daqui a uns tempos uma nova catástrofe, de maiores ou menores dimensões, ocorrerá. Ainda podíamos descartar com a desculpa de não haver imagens daqueles momentos infernais para suportar os “estudos”, mas há. E são deveras explícitas.

O incêndio que destruiu o "nightclub" The Station (Rhode Island), há praticamente dez anos, está documentado no Youtube. Talvez o que mais me surpreenda nesse vídeo seja a rapidez com que tudo aconteceu, como prova o facto da filmagem não ter interrupções. Por momentos lembra um daqueles filmes "low budget" feito de suposto "video footage" que esgotam sessões de cinema por todo lado. Parece que afinal não é preciso passar por hollywood para vermos um filme de terror "realista", filmado "amadoramente" e com cenas muito angustiantes.
Até diria que quase tudo neste "thriller" é perfeito (no sentido cinematográfico), não fosse ele real e ter revelado uma enorme tragédia. Existe essa imagem simbólica, em que o "realizador" pára e pousa a câmara. Ouve-se uns pequenos suspiros e desabafos... Mas depois opta por continuar. Essa pausa também deve ter servido para ele se conscientalizar da importância das imagens que tinha acabado de captar. No fim de contas, pergunto eu, para quê?


segunda-feira, janeiro 21, 2013

Oh Homero anda cá abaixo ver isto!



Não sei se já repararam (verificando as audiências, diria que não) mas a RTP1 há já alguns dias que inaugurou a sua nova grelha de programação. Uma nova novela/série que tem como cenário principal um hospital, ou seja, a enésima variação da “Anatomia de Grey”, um programa de entretenimento da praxe para a Catarina Furtado, outro para a Sílvia Alberto, outro para o Jorge Gabriel e Sónia Araujo, uma sitcom para o Vítor Espadinha e José Pedro Gomes, outra para o Nicolau e para o Fernando Mendes, outra para a Ana Bola, etc.. Portanto: há dinheiro para tudo isso, menos para mandar alguém à Suécia, a representar o país no Festival da Eurovisão.

Felizmente ainda sobraram alguns trocos para apostar em algo verdadeiramente interessante e original. Falo obviamente na nova série com a dupla Bruno Nogueira e Gonçalo Waddington: “Odisseia” (estreou ontem, mas quase ninguém viu porque estavam a ver se a Juliana Paes se despia pela 325ª e final no último episódio de remake da “Gabriela”, que a SIC, que já não ganhava, em matéria de audiências, um domingo há mais de um ano, decidiu passar, só para roubar alguns bons milhares espectadores a essa nova “Casa dos Segredos”, em versão “ainda mais peixarada” – ufa!).

A nível do formato (o efeito "matryoshka": uma realidade dentro da ficção que por sua vez capta a realidade e por aí a fora...) tem alguns pontos de contacto com o "Extras" do/com Ricky Gervais, mas não deixa de ter a sua originalidade, já que as personagens principais deste “Odisseia” desempenham papéis supostamente “reais”, enquanto que o Ricky nunca deixou de ser “Andy Millman”, o actor/figurante na série da BBC/HBO.
Não é um programa para todo o tipo de audiências, é certo. Mas pelo menos os fãs de Bruno Nogueira estão assegurados. De certeza que gostaram, pelo menos, daquela cena do puto que vai ao colo dele na caravana... Mas há mais que isso, muito mais que o humor nonsense e autodepreciativo que fez do “O Último a Sair” uma série de referência. Senão vejamos, neste primeiro episódio, reconstruiram uma cena musical e "sentimental" do "Vicky Cristina Barcelona" do Woody Allen, só que em vez do flamenco houve direito a um "playback" da Belle Dominique. A tal cena que antecede uma outra em que, como o Waddington diria, o Javier Bardem vai meter o seu bezigrólio no tubo de vácuo da Rebecca Hall.

“Odisseia” foi o 27º programa mais visto da TV portuguesa ao longo do dia de ontem... Não entremos em guerras de audiências, com a de Tróia já muito aprendi - diria Ulisses - mas que culpa é que o Bruno Nogueira & Ca. têm, de que os portugueses só gostem de ver “piiiii”?

sábado, janeiro 19, 2013

O ano do elefante (outra vez)




Tarangnam Style



Não há que enganar: Tarantino é sinónimo de entretenimento cool. Com este “Django Unchained”, mais uma vez, ele aborda assuntos sérios e desconfortáveis com uma ironia sem limites. No final há sempre a vingança da praxe, mas pelo meio somos servidos por vários momentos hilariantes (veja-se abaixo um exemplo). Depois há o estilo, tudo ali é cool, desde a vénia do cavalinho à banda sonora, passando pelas personagens. E que personagens! E que interpretações!