domingo, julho 31, 2011

Da desolação


Já todos mais ou menos sabemos as consequências económicas da política de subsidiarização do arranque de videiras que reinou, sobretudo nos anos 90, em Portugal. Mas quem viveu ou conheceu a realidade antes dessa época e vive ou conhece a actual, estará em melhores condições para perceber as grandes mudanças. Opto por meter de lado os rácios e estatísticas do antes e do depois e, simplesmente, olhar para as transformações paisagísticas.
A "Quinta do Valongo", em Abrigada, é um bom exemplo disso. Tenho algumas dúvidas se era esse o seu nome oficial, mas pelo menos era assim que o meu pai lhe chamava. Ele como chegou a trabalhar por lá, antes de se ter aventurado com o seu próprio negócio, terá a sua boa dose de credibilidade. Tenho vagas, mas boas, recordações de infância deste local, já que o meu pai, certamente com esperanças que me despertasse o gosto pela agro-pecuária (se assim for, o processo das desilusões começou cedo, coitado!), levou-me, em tempos de "férias grandes", algumas vezes consigo.
Sobretudo naquele tempo, esta quinta, pela sua dimensão e diversidade de negócios, era um mundo à parte. Havia sempre qualquer coisa a acontecer, qualquer coisa para ver e aprender. A começar nos vários currais e no estábulo, passando pelas casas principais (uma mais antiga, que se encontra hoje em ruínas, e outra mais recente) e os anexos, onde se incluía a casa dos caseiros (que também tinham a sua própria criação de animais), mais adiante, a casa dos outros empregados fixos (onde o meu pai trocava de roupa e aquecia o nosso almoço), depois, a grande adega e terminando num pavilhão, que, salvo erro, era onde se criavam aves - isto, de norte para sul. Lembro-me também da imagem das vinhas a perder de vista pelas encostas adjacentes e que começavam mesmo ali ao lado daquelas casas.
Pouco mais de 10 anos depois da empresa Avipor, SA - actual proprietária da quinta - ter aceite o subsídio aprovado pelos ministros da Agricultura da União Europeia para o "grande desenvolvimento do meio rural europeu" (?), o resultado está à vista. Fica uma amostra do que sobreviveu ao "desenvolvimento"... E a desolação.












quarta-feira, julho 27, 2011

Nostalgia com rasgos de camisa de flanela

O aniversário dos 20 anos de uma das mais importantes bandas que nasceram na geração grunge vai ser celebrado, em Setembro, com a estreia do documentário "Pearl Jam Twenty" da autoria de Cameron Crowe, realizador de "Vanilla Sky" e "Quase Famosos" (entre outros filmes mais ou menos populares).
Apesar de não ser propriamente um (grande) fã da banda, também não posso ficar indiferente a uma celebração deste calibre. Sobretudo pela importância que ela teve na minha adolescência, nos primeiros passos da minha "formação musical". Também pelas belas recordações que esses momentos me trazem, como foi descobrir o seu primeiro LP, "Ten", na companhia dos meus amigos da altura.
Há momentos na nossa vida que são tão importantes, que só fazem sentido quando associados a uma grande banda sonora... E o David Lynch quis saber como tudo começou.


Pearl Jam: Twenty from Victoria Taylor on Vimeo.


Bem mandado

Da estupidez destacada nos nossos noticiários

Há limites para anedotas? Alguém, lúcido, disse: "Eu conto anedotas sobre tudo mas não conto é certas anedotas a toda a gente." Não nos rimos de anedotas racistas (e há-as, boas) com racistas. E vídeos? Aí, o critério é mais relaxado. Há dias que Portugal se ri com o Hélio, titubeante ao skate ("sai da frente Guedes!"), descendo uma estrada, lançando uma frase épica ("o medo é uma cena que a mim não me assiste"), cruzando um automóvel e espalhando-se na berma. O vídeo foi visto no YouTube em quantidades maiores que as enchentes do Estádio da Luz num ano, as televisões entrevistaram os pais do Hélio, rimo-nos todos. E, no entanto, o vídeo do Hélio é uma estupidez criminosa que acabou bem. Exemplo de uma estupidez criminosa que acabou mal: António, de 17 anos, foi de madrugada para uma auto-estrada tourear carros. Deveria haver também um Guedes com um vídeo a filmar, mas fugiu, sem coragem de mostrar o atropelamento e a morte do António. Sem coragem, e daí não sei... Talvez ainda apareça no YouTube - e nos online dos jornais - a morte do António. A estupidez das pessoas (e não estou a falar só do grupo do António) é infinita. Aqueles que têm a arma de propagação da estupidez nas mãos - dos grupos de popularização dos Hélios até ao YouTube, passando pelos jornais e televisões - deveriam pensar nos limites. O próximo passo é pôr o vídeo de um garoto a atirar um pedregulho, de uma ponte, para a auto-estrada?

terça-feira, julho 26, 2011

Your pain is no credential here, it's just the shadow, shadow of my wound.



Well I stepped into an avalanche,

it covered up my soul;
when I am not this hunchback that you see,
I sleep beneath the golden hill.
You who wish to conquer pain,
you must learn, learn to serve me well.

You strike my side by accident
as you go down for your gold.
The cripple here that you clothe and feed
is neither starved nor cold;
he does not ask for your company,
not at the centre, the centre of the world.

When I am on a pedestal,
you did not raise me there.
Your laws do not compel me
to kneel grotesque and bare.
I myself am the pedestal
for this ugly hump at which you stare.

You who wish to conquer pain,
you must learn what makes me kind;
the crumbs of love that you offer me,
they're the crumbs I've left behind.
Your pain is no credential here,
it's just the shadow, shadow of my wound.

I have begun to long for you,
I who have no greed;
I have begun to ask for you,
I who have no need.
You say you've gone away from me,
but I can feel you when you breathe.

Do not dress in those rags for me,
I know you are not poor;
you don't love me quite so fiercely now
when you know that you are not sure,
it is your turn, beloved,
it is your flesh that I wear.

sábado, julho 23, 2011

quinta-feira, julho 21, 2011

A ouvir

A acompanhar o belo e último disco dos The Horrors, em matéria de indie pop/rock, tenho ouvido, quase de forma obsessiva, os dois discos de estreia de duas bandas americanas, definitivamente, a não perder de vista. A saber. Enquanto os Hooray for Earth poderão ser uma versão (ainda) mais afropop dos Yeasayer, os Widowspeak assumem a reencarnação perfeita dos Mazzy Star - e como é bom ouvir algo que nos faça recordar a magnífica voz de Hope Sandoval! Portanto não são portadores das "grandes novidades", mas isso não significa que em muitos momentos, quando comparados com as suas influências, não sejam até mais competentes. Antes pelo contrário.

Hooray For Earth - True Loves from Young Replicant on Vimeo.



WIDOWSPEAK - Harsh Realm from George Tanasie on Vimeo.

quarta-feira, julho 20, 2011

Mais um belo dia de Outono aqui pelos arredores de Lisboa...

A grande vantagem de quem por estes dias vai à praia, é que poupa no farnel, pois enche a barriga de areia.

domingo, julho 17, 2011

Minha saudade não larga / Certa casa abandonada. / E sinto, na boca, amarga , / Essa lágrima chorada / Quando a deixei... *

Num passeio matinal pelo campo encontrei esta pequena casa abandonada. Decidi imortalizar o momento, tirando umas fotos com o telemóvel. O resultado ficou muito longe da perfeição, mas fica a boa intenção.
Desta vez levei companhia. :)











*Francisco José Lahmeyer Bugalho (1905-1949)

"... e depois foi sempre a descer."

sábado, julho 16, 2011

Fórmula de sucesso para um festival de música de verão: primeiro o lazer, depois a música


Desde o ano em que a costa vicentina foi redescoberta pelos portugueses e passou a fazer parte dos principais destinos de férias de Agosto, ou pelo menos, a principal alternativa ao lotadíssimo Algarve, que associo o Festival Sudoeste a um evento mais social que musical. Mas não parece ser caso único.

Quase parece que foi ontem, mas foi em 1997, a primeira edição do Sudoeste. Memorável: jamais esquecerei, logo na primeira noite, o levantamento de pó inaugural deste festival ao som de "Song 2" dos Blur. Nesse momento pensei que este festival reunia sérias condições para ser o principal festival alternativo português. Bom na altura, também só havia o irregular Vilar de Mouros e o citadino Super Bock Super Rock, o suficiente para defini-los como verdadeiros luxos, comparativamente com a "balbúrdia escaldante e empoeirada" que é o cognome possível para a primeira edição do festival da Zambujeira.
Eu errei nas minhas previsões, o Sudoeste tornou-se no festival mainstream, por excelência. E a "Música no Coração" ganhou a aposta na isolada Herdade da Casa Branca e merece todos os louros provenientes desse facto, mas ainda assim não considero um grande feito. As belas praias da Zambujeira e arredores em sintonia com um dos primeiros fins-de-semana de férias de Agosto fazem uma fórmula mais que eficaz para transformar qualquer evento num sucesso - aliás, há que dizê-lo, uma fórmula idêntica já tinha funcionado no festival de Benicàssim, em Espanha.
Por acaso o nosso até tem The National e Kanye West mas podiam ser (só) quaisquer outros (David Guetta e Swedish House Mafia) e a enchente era a mesma.

Primeiro o lazer, depois a música. Esta característica não me parece tão nítida em alguns festivais que se realizam pela capital e arredores, mas ainda assim parece-me que até aqui este fenómeno tem vindo a desenvolver-se. Por exemplo, logo na primeira edição do Alive, só estranhei a presença de vários elementos do nosso jet set mais glamoroso, até perceber que a sua presença ali se devia menos às rimas dos Beastie Boys do que aos repórteres da Flash e da Caras (que também andavam por lá). Situação esta, repetida no ano passado, no SBSR, em nova noite de enchente, com Prince como cabeça de cartaz.

Pelo que se tem visto, safam-se o Paredes de Coura e o Milhões de Festa e pouco mais. Pelo menos até ao dia em que uma das "Pituxas" desta vida se perder de amores por uma praia fluvial nortenha e espalhar a boa nova pelo facebook.

quarta-feira, julho 13, 2011

My first review kind of

Uma publicação musical inglesa mandou um teenager (e estagiário) assistir a um concerto dos The Horrors e pediu-lhe para escrever uma crítica. O resultado pode ser conferido aqui e é, no mínimo, surpreendente.

(...)
My name is Hugh O’Boyle and I am 15. I have never written a review before, I have only been to two gigs in my life and I live in the not-so-glorious town of South Molton in Devon. Being a huge music fan and admirer of the big city, you could probably guess that my life can get pretty fucking boring at times.
(...)
Undoubtedly, Skying’s ‘Still Life’ goes down incredibly well with the crowd, with its trancey synth, simple snare-drum beats, slow basslines (from the one and only Rhys Webb, with his funky bobbing bass hop) and powerful lyrics. As the chorus comes about, the crowd sway back and forth, almost entirely with their eyes shut, murmuring the words, “When you wake up, when you wake up — you will find me.
The group’s minimalistic approach on ‘Still Life’ leaves fans in a state of pure relaxation and trippy-ness. As the track finishes, Badwan warns spectators: “Watch out for the lasers, I got one in the eye earlier.”
(...)


Infelizmente nunca vi esta banda ao vivo, mas três factos podem, desde já, ser assegurados:
- "Primary Colors" é um disco fabuloso e o mais recente "Skying", parece-me que segue o mesmo caminho... ;
- "Still Life" tem de facto uma componente transcendental digna de registo - que se deve transformar ao vivo num momento mágico e verdadeiramente especial;
- Este "puto" escreve críticas mais entusiasmantes que muitos veteranos.

segunda-feira, julho 11, 2011

Dubstepish? Também gosto.

Nas últimas semanas a colheita tem sido famosa. Por isso prevejo dias (ainda) mais difíceis para quem ainda tem pachorra para catalogar alguma da melhor actual música "bass" inglesa. Não lhes falta criatividade, do tudo ao molhe e fé no beat: Dubstep/Funky/Dancehall/Wonk-hop/Hypercrunk/Garage, ao muito expressivo: "???????".
Mas há ainda quem opte pela "simplicidade" e escolha, por exemplo, Swedish House Mafia. Pois aqui o nome não engana: são suecos, produzem House para as massas e já se dão ao luxo de ser cabeças de cartaz de um dos nossos festivais de verão. O que uma boa "Mafia" não faz?

Deadboy - HERE (Preview) by Numbers

Silhouette / Reset [AUS1134] by George FitzGerald

Ossie - Set The Tone (Hyperdub) by BOILER ROOM

Voltron - Be For Real (128 kbps) by Voltron

502:003 Teeth - Shawty/Shawty [FaltyDL Remix] by 502 Records

sexta-feira, julho 08, 2011

quarta-feira, julho 06, 2011

Dos tomates secos ao sol

As ricas ANAlogias de um cronista


Ou como meter a sua vida íntima de âmbito internacional, uma empresa de gestão aeroportuária, uma transportadora e a eterna vitimização do norte em meia dúzia de linhas de artigo de opinião.

terça-feira, julho 05, 2011

81-11

Os Depeche Mode têm um novo disco de remisturas. Um não, três! Olhando só para a (quase) infinita lista de 37 faixas não deve ser dos melhores incentivos para pegar neste triplo-CD, apesar de contar com a presença de nomes da "electrónica de vanguarda" dos dias de hoje. A verdade é que à medida que se vai escutando faixa-a-faixa, acaba-se por descobrir que as grandes surpresas aparecem onde menos se espera. Alguns exemplos:







A fechar o lote, esta pede o volume no máximo:

domingo, julho 03, 2011

A infidelidade manter-nos-á juntos

Mesmo não concordando com algumas opiniões deste cronista do NYT, recomendo este artigo. As infidelidades, secretas ou consentidas, serão sempre um tema polémico e interessante para reflectir.

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In some marriages, talking honestly about our needs will forestall or obviate affairs; in other marriages, the conversation may lead to an affair, but with permission. In both cases, honesty is the best policy.
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Treating monogamy, rather than honesty or joy or humor, as the main indicator of a successful marriage gives people unrealistic expectations of themselves and their partners. And that, Savage says, destroys more families than it saves.
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We all have many sensitive spots, but one of the most universal is the fear of not being everything to your partner — the fear, in other words, that she might find somebody worthier. It is the fear of being alone.
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(uma boa questão)
But for many women, and not a few men, there is no such thing as “just sex,” for their partners or for themselves. What if a woman, or a man for that matter, looks outside marriage for the other emotional satisfactions that come along with sex?

(e parte de um comentário realista)
Until the word slut has been flensed from the language, until women are not threatened by their former partners, this kind of arrangement will always be a case of male privilege in progressive clothing.