sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Tu é que não és o quê?


Este país não é para novos

Achei importante transcrever as palavras de uma coordenadora do Núcleo de Saúde Reprodutiva e do Trabalho Feminino da Escola de Serviço Social da Universidade do Rio de Janeiro e de uma antiga secretária nacional da Justiça brasileira, publicadas numa edição do Público. Edição essa, poucos dias depois de se ter ficado a conhecer a história de Mara, a jovem brasileira de 19 anos, que aos 10 passou automaticamente de criança a escrava sexual, pois era violada diariamente por um homem - e pelos seus “clientes” - que a manteu em cativeiro ao longo destes anos. Engravidou a primeira vez aos 13 anos e esse mesmo homem acabou por matar o seu segundo filho, pois “era demasiado barulhento e podia levantar suspeitas entre a vizinhança”. O que sobreviveu, tem actualmente 6 anos e, também foi molestado pelo suposto “pai”.
Face a casos como este, numa ditadura do medo, siga-se então pelos trilhos da indiferença e da banalização. Depois, pasmemo-nos todos com a “bela” humanidade, esta, que se está a criar.

A imprensa nacional desvaloriza a sua história, porque, infelizmente, a escravidão sexual é comum no Brasil.
Se fosse na Europa, o caso de Mara era muito mais crime do que é aqui. Basta lembrar o mediatismo que envolveu o caso de Natasha Kampusch, a jovem austríaca de 18 anos que em Agosto de 2006, fugiu de um cativeiro na garagem da casa do electricista W. Priklopil, que a tinha sequestrado oito anos antes.
São as teias de um país dominado por homens, por senhores, por coronéis.
Em certos aspectos, o Brasil parece um país fictício, quando a preocupação do Estado não é o cidadão, o cidadão também se demite.
É incrível como este caso demonstra que a população não acredita no poder público, nem se julga com direitos de cidadania.
A incredulidade é tanta em largas fatias da população que os pais dessas crianças pensam: “Já que o teu destino é a pobreza, ao menos vamos potenciar o que tens”. E o que têm estas crianças pobres, na óptica dos pais? Têm um sexo que lhes pode melhorar a vida.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

E dezasseis anos depois:


O novo single promete bastante. :-)
Aditamento. Justiça seja feita: o link desta música não era da "joana", era deste senhor. Pela minha leviandade, peço desde já as minhas sinceras desculpas ao Nick. De seguida, vou lhe transmitir algumas palavras de esclarecimento em inglês, no sentido de lhe fazer entender a minha posição face à divulgação e partilha de mp3's pela comunidade bloguiana que não possui qualquer autorização por parte dos músicos para o fazer, e aproveito para lhe dizer que ele NÃO está convidado para o meu churrasco. Um americano a pedir satisfações do uso abusivo (de outrem) de uma propriedade que não é sua? Inédito. Quer barbecues? Faça-os lá no quintal da casa branca!
Great Site, man! :-)

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

And the Oscar goes to...


“The fight is over. So tonight, welcome to the makeup sex.”
“Normally when you see a black man or a woman president, an asteroid is about to hit the Statue of Liberty.”
“Oscar is 80 this year, which makes him now automatically the front-runner for the Republican (presidential) nomination.”

Desta gente (que me adora)

O que é uma diva? E, já agora, para que serve uma diva? Em Portugal, a comunidade gay (masculina), no mais generalista que isso possa querer designar, elegeu Simone de Oliveira como a sua diva. Ninguém consegue muito bem explicar as razões. Nem a própria. A sua imagem terá servido de modelo para muitos travestis usarem, com sucesso, nos seus shows há uns bons anos atrás. Mas será tal razão suficiente para justificar esta idolatria? Independentemente de todos os seus justos e reconhecidos méritos – porque também não é isso que está aqui em causa - fico com a sensação que ela caiu nesta “posição” por mero acaso. Pelo menos é essa a ilação que tiro ao ler a entrevista que concedeu à revista Time Out (obrigado, sara).
“Homossexual é o homem que gosta de homens. Gay é um homem que gostava de ser mulher.”
“Naturalmente, viviam melhor do que hoje, em que se fazem aquelas paradas, aqueles desfiles ridículos. Aquilo não é nada. Aquilo é um dar nas vistas, é fazer brincadeiras de mau gosto.”
“A noção que tenho é a de que não há nenhum homossexual que não tenha tido uma grande paixão por uma mulher, diz-me a experiência.”

Entre alguns “disparates”, ela acaba por dizer algumas verdades. Verdades estas que não são novidade para quem esteja minimamente informado sobre o meio. No entanto é, de facto, importante ter consciência da quão multifacetada pode ser a “comunidade” que a idolatra. Saber que há todo um outro mundo que está longe de a venerar por tais incógnitos motivos, muito longe das paradas públicas que ela critica e das festas de travestis “caseirinhas” que ela gosta.
“Neste país, há imensos senhores casados, com filhos, que gostam de homens e têm as suas relações. Somos uma sociedade perfeitamente mentirosa.”

Para se ser diva, pelos vistos, também é importante saber isso. Mas também seria importante saber que para lutar por certos direitos e contra discriminações é necessário “dar nas vistas”. Ou pode-se ficar à espera de que seja o homossexual que não se aceita como tal que o faça? Sejamos realistas: por cá, e fazendo as contas certas, o homossexual (masculino) comum, nem é tanto o que dá a cara ou participa em desfiles, mas será mais o que baixa e sobe as calças à mesma velocidade com que foge de uma discussão da defesa das causas da sua orientação sexual. Uma sexualidade que ele nega, categoricamente, mas que pratica, sem contenção. Felizmente ainda vai havendo gente honesta neste meio que, gostando ou não de “dar nas vistas”, vai à luta e tem feito, apesar de tudo, muito pelo respeito e dignificação de todos os que “praticam” esta sexualidade. Todos! Incluindo os que cospem no seu prato da sopa.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Parabéns caro leitor: acabou de acumular uma morcela no seu saldo de cliques!

Uma manhã destas, logo ao acordar, comecei a ponderar nas várias hipóteses de fazer com que este blogue ficasse esteticamente mais feio, visualmente mais desagradável e menos prático de consultar as opções “extra-posts”. Cheguei a pensar contratar os mesmos gajos que criaram o novo site da Ana Malhoa, mas ao perceber que isso poderia trazer-me uma certa popularidade para o qual ainda não estou preparado, decidi não arriscar. Para além de que não teria suficiente dinheiro - ou silicone - para pagar tal complexo serviço. Até que um amigo opinou: “Porque não colocas anúncios do Google?... Ficas com a página mais cheiinha e ainda podes ganhar algum dinheiro com isso.” A primeira parte cumpria em pleno o meu objectivo, a segunda nunca fez qualquer sentido na minha cabeça. O Google para além de dispensar-me um espaço para eu escrever uns disparates, entre dois ou três desabafos e colocar fotos de ceroulas gigantes, ainda me vai dar dólares em troca? Deve ser, deve! Mesmo incrédulo acabei por aceder à sugestão do meu amigo.
Até que esta semana sou surpreendido, dentro da minha caixa de correio, coladinho à Dica da Semana, com um postal cujo remetente indicava: Google Adsense Support, (...), USA, e no seu interior continha alguma informação sobre uma “activação dos pagamentos” e um pin pessoal. Comecei a rir. O vizinho do primeiro andar, que tinha entretanto entrado no prédio, deve ter pensado: “Olha, mais um que não perde uma anedota do jornal do Lidl”.
"Ganhar dinheiro com a internet sem ter que me despir em frente a uma webcam? Ah ah ah!"
Que fique aqui registado: no dia que entrar em qualquer uma das minhas contas – por questões prático-fiscais tinha uma certa preferência por aquela que possuo num Banco na Suiça - um tusto por conta do “Foi um prazer...”, organizarei uma churrascada e estarão convidados, para participar nela, todos os meus assíduos leitores. A bebida será à descrição, mas os grelhados serão distribuídos consoante a fidelidade a este blogue. Para ficarem com uma ideia: três “cliques” semanais corresponderão a uma salsicha alemã, duas febras de porca ribatejana e uma alheira de Mirandela. Eu se fosse a vocês acampava já por aqui.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Pá, evitei uma fila de 2 km na A1 e vim pelo Trancão!


sQuba, o primeiro carro submergível, vai ser apresentado no dia 7 de Março no Salão Automóvel de Genebra. Um carro a apostar fortemente no mercado português. Sobretudo útil para quem tenha que sair de casa em dias que chova um bocadinho mais que o normal ou para evitar portagens e as enormes filas de trânsito nas pontes. Aliás, com a chegada deste carro, dispensa-se qualquer tipo de discussão sobre a localização de novas pontes.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

E o Urso de Ouro...

... já ninguém lhe tira. Merecidíssimo, será desta que estreia por cá?

Smell like excessive-quantity-of-smoke

Foi aquela banda de covers rock que nos fez ir àquele local. Os meus amigos já conheciam-nos, no entanto, para mim, no passado sábado sucedeu uma dupla estreia, uma nova banda e um novo local: o “Armazém do Sal”, na Azambuja, em pleno Ribatejo (Sul). Bar dançante, espaçoso e com um ambiente agradável. Quando lá chegamos, já os Declinios iam a meio da sua versão de “Ruby” dos Kaiser Chiefs. Não os via, mas ouvi-os até bastante bem. A casa estava cheia e só faltavam-lhes uma certa elevação física, tipo: um palco, para que pudessem ser distinguidos do público que queria estar mais junto deles. Não precisei de escutar mais de duas ou três músicas para confirmar o boato: eram, de facto, muito bons. Limitarmo-nos a chamar-lhes uma banda de imitações parece-me muito injusto, já que o mais interessante que os Declinios tem para nos oferecer é uma certa originalidade que incutem nas suas versões de algumas “malhas” do nosso pop/rock/metal contemporâneo. Muse quase perfeitos, Razorlight e Arctic Monkeys para surpreender, Queens of the Stone Age bem esgalhados e uma insistência, mais que justificada pela garra e vozeirão do vocalista, nos Sistem of a Down. Houve tempo (mas pouco espaço) para “curtir” os clássicos dos Rage Against the Machine, Metallica e Nirvana. Pelo o que os pedidos do público davam a transparecer, o “Thunder(struck)” – ou “Sandra!” como o extrovertido vocalista escarneceu - dos AC/DC era o “prato da casa” e foi servido com o vocalista a transformar a sua voz de forma a ter ficado com dúvidas – já que, como referi anteriormente, mal os conseguia ver - se o Sr. Brian Johnson não terá sido subitamente teletransportado das terras dos cangurus directamente para as lezírias, só para levar aquele local ao rubro. Foi um momento brilhante.
O primeiro encore encerrou com o hino da geração rebelde dos anos 90, que é como quem diz “Smell like teen spirit”. Cheirava a alguma rebeldia, sim, mas cheirava mais a fumo. Não sei se aquele espaço se enquadra numa das exclusões da nova lei anti-tabagista e se tem mais ou menos de 100 m2 - porque se há coisa que não costumo trazer para locais de animação nocturna, é uma fita métrica para confirmar se os espaços públicos que frequento estão a cumprir a nova lei – mas uma coisa posso garantir: o sistema de evacuação de fumo daquele espaço funciona debilmente. Foi este o único pormenor “nebuloso” que não permitiu que aquela noite e aquele espaço não pudessem ser mais agradáveis. Por mais divertidíssimos que fossem os medleys dos Declinios, sentia-se o ar pesado e nem era com o risco de provocar uma taquicardia a qualquer militante da extrema-direita que se encontrasse por lá, quando a banda decidiu misturar os Buraka Som Sistema com o Hino Nacional. Concentrava-se sobre as nossas cabeças, um fumo que não encontrava um meio de fuga, tornando-se ainda mais denso sempre que, o vício se tornava insuportável e, se acendia mais um cigarro naquela sala, dificultando a respiração e a visão. Felizmente que o fumo não afecta directamente os ouvidos...

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Nina

Tenho uma grande amiga que por vezes partilha comigo as suas amarguras do coração. Ninguém diz que por trás daquela rapariga extrovertida e bem-humorada, pode estar alguém tão frágil e emocionalmente carente. Só mesmo quem conheça as suas tristes histórias. Namorados, namoradas, casos e descasos.
Recentemente atraiu-se por uma colega de trabalho, que por sua vez já era comprometida. Tal atracção podia não ter passado disso, se não tivesse sido correspondida. Restava-lhe a consciência de que podia estar a mais e conseguir sair a tempo, ilesa, o quanto antes deste “jogo”. Mas será fácil contornar as suas regras quando o coração assume o papel de árbitro? Sinceramente, não sei, mas não consigo vislumbrar-lhe um prognóstico favorável: os trios amorosos nunca deram bons resultados para quem entra no “jogo” quando ele já vai a meio e é jogado, pelos restantes jogadores, com regras viciadas.
Não gosto de a ver triste, não gosto de a ver sofrer por ainda não ter encontrado alguém que soubesse valorizar e respeitar os seus sentimentos. Gostava, antes, que ela encontrasse um justo merecedor dos seus carinhos e que continuasse a acreditar nessa enorme capacidade de amar que, e apesar de um passado menos favorável, ainda lhe vai apoderando da alma.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A evolução dos costumes

A evolução dos costumes continua presa à ciência de saber quem de facto tem o direito de entender o sorriso das crianças. “Percebeu? Eu tenho uma filha. Eu posso entender!” Isto na boca de um político de extrema-esquerda. Mas os artistas não ficam atrás, só não metem a procriação ao barulho porque investem na metáfora: “A minha vida privada é um reduto inexpugnável.” A frase vinha estampada numa revista de mexericos como declaração peremptória de um actor famoso, um homem bonito, culto, na casa dos 40, vítima de uma onda de rumores malévolos que o associavam à vida privada de um político de nomeada. Se a reserva de intimidade de um artista cabe toda numa frase kitsch, que juízo fazer da evolução dos costumes?

Cidade Proibida, Eduardo Pitta

Hot, hot

(Beyoncé & Tina Turner, na cerimónia dos Grammys da noite passada)

42 anos separam as idades dos dois pares de pernas mais "hot" da história da música R&B. Mas elas são muito mais que isso.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Sem palavras

Quando ela chegou à zona dos campos e das paredes onde se costuma praticar ténis, já eu suava há mais de meia-hora. Ficamos em locais opostos, mas com a troca de bolas tive o privivlégio de a ver mais de perto e delinear melhor o seu perfil. Tive a oportunidade, inclusive, de lhe ouvir um doce “obrigado”, após uma das suas bolas ter invadido o meu espaço. Não usava daquelas maravilhosas e sedutoras saias que as suas “colegas” tenistas usam nos jogos profissionais, mas as calças (justas) também não lhe tiravam qualquer mérito. A combinação do cabelo alourado (com “rabo-de-cavalo”), a sua pele branca e um top preto colado ao peito fazia por despertar a atenção de alguns transeuntes – outros atletas ou famílias de passeantes - que passavam por perto. No entanto ela limitava-se a atirar as bolas contra a parede e a recebe-las de uma forma perfeitamente sincronizada e nada ou ninguém a desconcentrava.
Na estrada perpendicular à parede onde ela se encontrava, um rapaz, dentro do seu carro, parou uns metros antes e ficou por ali uns segundos a observá-la. Até que acabou mesmo por desligar o motor do seu Volkswagen Golf (versão antiga) preto. A rede, que separava os pouco metros dos campos de treino da via pública onde ele se encontrava, dava-lhe uma certa margem de segurança para cometer tal “ousadia”. Os carros, excepto os dos seguranças, estão interditos naquela zona do Estádio Nacional, no entanto o nosso “voyeur” deve pertencer ao contingente de trabalhadores que estão nas obras que vão dar origem ao gigantesco pavilhão de campos de ténis cobertos. Ela continuou o seu treino, mesmo depois de perceber que estava a ser descaradamente observada. Ele, não se fazendo de rogado, abre ainda o vidro do “pendura” para poder ouvir com maior clareza os ligeiros “gemidos” (de esforço) da desportista. Por ali ficou vários minutos. Só tinha olhos para ela e nem reparava que também estava a ser observado por todos os que por ali passavam e estranhavam a sua presença. Ela recuou, dirigiu-se ao saco e retira do seu interior uma garrafa de água. Colocou-se de perfil e ele, seguramente, acompanhou muito melhor que eu todos aqueles pequenos gestos corporais que a aliviaram-na da sede. Voltou a pegar na raquete e perseguiu o treino. Ele esperou mais uns minutos e acabou por partir, vagarosamente.
Chamem-me parolo e ultrapassado, mas gosto destes momentos de cortejamento ou galanteio.

“A todos nós falta a linguagem para expressar o que sentimos, e a única maneira de tornar alguma coisa visível é através da linguagem corporal. Já era assim com os “cowboys”...” Ang Lee, numa entrevista publicada no Público da semana passada. Por causa do seu novo filme: Lust/Caution ("Sedução/Conspiração").

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Mesmo assim há ainda quem pense que amar é fácil

O mais interessante dos nossos relacionamentos, para além de vivê-los, é perceber como funcionam e porque funcionam. Sendo nós, por vezes, tão distintos uns dos outros, é notável a nossa capacidade de adaptação (e, por vezes, de sacrifício). Os opostos atraem-se ou os opostos subjugam-se, mas eles mantêm-se. Sempre.
Até as pessoas mais frias e (aparentemente) insensíveis vão-se relacionando. Noto que para isso será necessário que o(a) parceiro(a) não o seja, pois para que se inicie uma relação é exigido um certo equilíbrio a nível de conjugação de personalidades. Depois, a durabilidade desse relacionamento já estará dependente da capacidade de ambos, ou só de uma das partes (como também acontece), fazer(em) por manter a sustentabilidade desse equilíbrio. É aqui que se avalia o grau de flexibilidade e tolerância de cada um. Pelas melhores e piores razões, ninguém esquece o(a) amado(a) mais inflexível e intolerante.