segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A evolução dos costumes

A evolução dos costumes continua presa à ciência de saber quem de facto tem o direito de entender o sorriso das crianças. “Percebeu? Eu tenho uma filha. Eu posso entender!” Isto na boca de um político de extrema-esquerda. Mas os artistas não ficam atrás, só não metem a procriação ao barulho porque investem na metáfora: “A minha vida privada é um reduto inexpugnável.” A frase vinha estampada numa revista de mexericos como declaração peremptória de um actor famoso, um homem bonito, culto, na casa dos 40, vítima de uma onda de rumores malévolos que o associavam à vida privada de um político de nomeada. Se a reserva de intimidade de um artista cabe toda numa frase kitsch, que juízo fazer da evolução dos costumes?

Cidade Proibida, Eduardo Pitta

3 comentários:

Daniel J. Skråmestø disse...

Não percebi.
1 - "Se a reserva de intimidade de um artista cabe toda numa frase kitsch, que juízo fazer da evolução dos costumes?".
O que é evolução de costumes? Porque se deve fazer o seu juízo?
2- "A evolução dos costumes continua presa à ciência de saber quem de facto tem o direito de entender o sorriso das crianças."
Ciência de saber? Sorriso das crianças? Direito de entender?
O que raio quer isto dizer, realmente?

agent disse...

Este parágrafo fora do contexto do livro pode dar a origem a alguns mal entendidos, no entanto se o tentarmos compreender à luz do que é a nossa sociedade hoje em dia e o que mudou a nível de mentalidades, podemos ficar mais esclarecidos. Não se tem que fazer um juízo disso mas pode-se tentar perceber o que mudou - se é que algo mudou a esse nível. A reserva de intimidade de alguém não deveria sequer ser questionada, mas não haverá uma certa “evolução dos costumes” quando um famoso actor, em vez de usar uma frase kitsch para escapar a um “boato”, ter tomates para assumir para todas as revistas “Caras” desta vida a sua (suposta) relação homossexual com o seu companheiro, que por sua vez é um famoso político?
Recordas-te do tal debate Louçã versus Portas, certo? Claro que não é coisa para pôr a “evolução dos costumes” em causa, mas quando um (re)conhecido político liberal de esquerda, mesquinha e cobardemente, usa um argumento daqueles para confrontar um outro - só porque este não tem filhos - alguma coisa não vai bem.

Daniel J. Skråmestø disse...

:-) ok, assim percebe-se melhor