Mário tem 25 anos, trabalha numa oficina de raparação de carros e é pugilista nos tempos livres. Susana tem 23 anos e é funcionária num hipermercado. Conheceram-se há pouco tempo, sentiram-se atraídos um pelo outro e decidiram morar juntos, algures nos arredores de Lisboa. Não casaram, “juntaram-se”.
O Mário adora lutar e a adrenalina pela competição corre-lhe nas veias. O dinheiro dos prémios também é um bom incentivo. Susana gosta de o ver nos treinos mas evita os combates “a sério”, pois sofre com ele. Mário não é um “peso-pesado”, mas é um boxeur acima da média. O que lhe falta em força e em técnica, tem em agilidade e resistência. Foi vencendo algumas competições e tornou-se num atleta muito respeitado, a nível local e até mesmo a nível nacional, na categoria em que competia. No entanto, havia algo que o preocupava: “Estes gajos do leste são duros, pá... nunca lutei com nenhum, mas já os vi lutar, dentro e fora do ringue e digo-te: são fodidos!” – dizia ele aos amigos, enquanto Susana o ouvia, como sempre, impressionada. Mas Mário evitava mostrar sinais de insegurança face ao que mais temia e acrescentava: “Se tiverem o azar de me aparecerem à frente... caem no chão da mesma maneira como os outros. Ainda por cima não vou nada à bola com eles. Lá na terra deles é que estão bem...”. Susana concordava. Não compreendia como era possível que com tantas pessoas desempregadas em Portugal se desse emprego a estrangeiros. E a entidade para a qual trabalhava fazia-o deliberadamente. Eram brasileiros, russos, moldavos, eslovenos,... todos em competição directa com os portugueses. E isso perturbava e intimidava Susana.
Quis o destino que num dos torneios em que Mário participou tivesse que enfrentar um ucraniano. Este tinha um razoável historial de vitórias, tanto no seu país de origem como já na sua (curta) estadia por cá. Mas Mário não tinha um currículo inferior e como ambos tinham uma estrutura física similar, tudo levava a crer que poderiam proporcionar um combate interessante e, acima de tudo, justo.
Susana, ao contrário do que era habitual, foi assistir ao combate. Estava nervosa, aliás, estavam ambos muito nervosos. O combate decorreu nomalmente, mas notava-se uma clara superioridade na performance do boxeur de leste. Era acima de tudo mais certeiro nas investidas que fazia. Enquanto Mário, usava a sua rapidez para tentar alcançar a cara do adversário, este usava a inteligência e aproveitava todos os momentos em que Mário se descontrolava e desprotegia a cabeça para desferir golpes brutais. Mário estava nitidamente esgotado e já se socorria a golpes na nuca, nos rins e nas costas para tentar lesionar o adversário da forma menos correcta. Por isso, o árbito puniu-o várias vezes, com faltas, ao longo dos 6 assaltos em que decorreu o combate, contra a vontade da assistência que estava, na sua maioria, do lado do pugilista nacional. Terminou o combate e o ucraniano venceu, claramente, por pontos. Mário sentia-se revoltado e o seu problema não estava tanto na derrota, mas mais no individuo que o tinha derrotado. Sentiu-se humilhado e jurou vingar-se num próximo combate com outro atleta do leste europeu.
Susana, em casa, ouvia as lamentações e os desabafos do companheiro e dava-lhe todo o apoio. No trabalho, não só evitava dialogar com as duas colegas russas que tinha por perto, como tentou virar algumas outras colegas contra elas.
Tudo isto para entender as causas da xenofobia ou de qualquer outro tipo de preconceito. Há quem tenha medo de “enfrentar o outro - o desconhecido, o diferente”, mas também há quem simplesmente se deixe influenciar pelos primeiros. Todos erram por pura ignorância e estupidez.
O Mário adora lutar e a adrenalina pela competição corre-lhe nas veias. O dinheiro dos prémios também é um bom incentivo. Susana gosta de o ver nos treinos mas evita os combates “a sério”, pois sofre com ele. Mário não é um “peso-pesado”, mas é um boxeur acima da média. O que lhe falta em força e em técnica, tem em agilidade e resistência. Foi vencendo algumas competições e tornou-se num atleta muito respeitado, a nível local e até mesmo a nível nacional, na categoria em que competia. No entanto, havia algo que o preocupava: “Estes gajos do leste são duros, pá... nunca lutei com nenhum, mas já os vi lutar, dentro e fora do ringue e digo-te: são fodidos!” – dizia ele aos amigos, enquanto Susana o ouvia, como sempre, impressionada. Mas Mário evitava mostrar sinais de insegurança face ao que mais temia e acrescentava: “Se tiverem o azar de me aparecerem à frente... caem no chão da mesma maneira como os outros. Ainda por cima não vou nada à bola com eles. Lá na terra deles é que estão bem...”. Susana concordava. Não compreendia como era possível que com tantas pessoas desempregadas em Portugal se desse emprego a estrangeiros. E a entidade para a qual trabalhava fazia-o deliberadamente. Eram brasileiros, russos, moldavos, eslovenos,... todos em competição directa com os portugueses. E isso perturbava e intimidava Susana.
Quis o destino que num dos torneios em que Mário participou tivesse que enfrentar um ucraniano. Este tinha um razoável historial de vitórias, tanto no seu país de origem como já na sua (curta) estadia por cá. Mas Mário não tinha um currículo inferior e como ambos tinham uma estrutura física similar, tudo levava a crer que poderiam proporcionar um combate interessante e, acima de tudo, justo.
Susana, ao contrário do que era habitual, foi assistir ao combate. Estava nervosa, aliás, estavam ambos muito nervosos. O combate decorreu nomalmente, mas notava-se uma clara superioridade na performance do boxeur de leste. Era acima de tudo mais certeiro nas investidas que fazia. Enquanto Mário, usava a sua rapidez para tentar alcançar a cara do adversário, este usava a inteligência e aproveitava todos os momentos em que Mário se descontrolava e desprotegia a cabeça para desferir golpes brutais. Mário estava nitidamente esgotado e já se socorria a golpes na nuca, nos rins e nas costas para tentar lesionar o adversário da forma menos correcta. Por isso, o árbito puniu-o várias vezes, com faltas, ao longo dos 6 assaltos em que decorreu o combate, contra a vontade da assistência que estava, na sua maioria, do lado do pugilista nacional. Terminou o combate e o ucraniano venceu, claramente, por pontos. Mário sentia-se revoltado e o seu problema não estava tanto na derrota, mas mais no individuo que o tinha derrotado. Sentiu-se humilhado e jurou vingar-se num próximo combate com outro atleta do leste europeu.
Susana, em casa, ouvia as lamentações e os desabafos do companheiro e dava-lhe todo o apoio. No trabalho, não só evitava dialogar com as duas colegas russas que tinha por perto, como tentou virar algumas outras colegas contra elas.
Tudo isto para entender as causas da xenofobia ou de qualquer outro tipo de preconceito. Há quem tenha medo de “enfrentar o outro - o desconhecido, o diferente”, mas também há quem simplesmente se deixe influenciar pelos primeiros. Todos erram por pura ignorância e estupidez.
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