quinta-feira, setembro 27, 2007

Os nossos paraísos já não são o que eram

Portugal tem muitos paraísos escondidos, mas habitualmente estes não se mantêm nessa condição por um longo período de tempo. Pelo menos até uma qualquer revista semanal os denunciar. Os directores destas revistas na ânsia de vender mais meia dúzia de exemplares e fazer o título de mais uma "edição especial de verão" ou simplesmente para encher mais um número e divulgar mais dois ou três belos lugares recônditos do nosso país que a revista concorrente não divulgou, acabam por se esquecer do verdadeiro significado daqueles locais. Portanto, é preciso que uma revista publique um artigo com a localização dos nossos paraísos para que estes deixem imediatamente de o ser ou não houvesse, no Domingo seguinte à sua publicação, uma peregrinação massiva com destino aos ditos cujos.

Uma das suas “vítimas” trata-se de uma praia que fica localizada às portas de Lisboa e não muito longe da balbúrdia da Costa da Caparica. Há quem lhe chame “Praia da Nato”, por ficar situada a escassos metros de umas instalações daquela organização internacional, mas no fundo ela acaba por ser só um prolongamento da praia mais próxima: Fonte da Telha. Não é a praia mais bonita do mundo, nem sequer ganha esse galardão na categoria nacional, mas possui características muito especiais. Os acessos - por onde se pode ficar deslumbrado com a vista sobre toda a zona costeira da Caparica até ao Cabo Espichel e com um pouco de boa vontade consegue-se ainda observar os contornos da serra de Sintra - são feitos através de uma mata (a dos “Medos”) e toda essa magnifica paisagem compensa os milhares de metros que se têm de percorrer até descer pela encosta até à referida praia. Já com os pés na areia confere-se que o meio envolvente não é menos esplendoroso: de um lado o azul infinito, do outro, o verde da vegetação que domina toda a ravina e em frente, um extenso areal a perder de vista. Tudo isto oferecido com um bónus: um sossego que só é interrompido pelos sons das gaivotas e das outras aves vindos dos dois lados opostos.
Não era uma praia muito frequentada, pelo menos até ser sido destacada pela Visão como um dos nossos “Éden” a descobrir. Pelo seu isolamento, também sempre foi uma praia onde se praticou nudismo e não deixou de o ser depois da publicação do tal artigo e com o consequente aumento de frequentadores. Pelo contrário, aumentou o número de “pirilaus, mamocas e rabiosques” à mostra, mas também aumentou, por acréscimo, a quantidade de “mirones”. Estes colocam-se segura e estrategicamente na zona da ravina a observar a “paisagem”. Na viagem que faço de regresso ao parque de estacionamento passo por alguns. A maioria são idosos, outros nem tanto, mas quase todos vêm munidos “discretamente” com uma pequena caixa ou um saco plástico que eu julgava, até há dias, conterem uns binóculos.
Falo com um amigo, muito mais conhecedor da zona e da respectiva fauna que eu, sobre o assunto e ele dispara com uma estranha pergunta: “Alguma vez confirmaste se são mesmo binóculos?”. De facto não lhe poderia assegurar que tipo de instrumento usavam porque vi-os a maior parte das vezes bem escondidos e sempre de costas. Desafiou-me para que numa próxima oportunidade conferisse melhor o que usavam para observar com mais nitidez o que lhes rodeava.
No passado fim-de-semana, coloquei esta “pequena investigação” em prática. Assim sendo, depois de mais um belo dia de praia, no caminho de regresso, passo pelos locais estratégicos de contemplação da zona e aproximo-me o máximo que consigo, tentando não ser notado nos primeiros momentos de aproximação. Deparo-me com um senhor muito compenetrado no que estava a fazer e reparo que na sua mão direita não tinha de facto uns binóculos. Tinha uma câmara de filmar. O sujeito nem deu pela minha presença o que me permitiu confirmar com alguma clareza, pelo pequeno ecrã da câmara, o que estava a filmar. E não era paisagem, pelo menos da que se costuma denominar por “natural”! Este fenómeno repete-se uns metros mais à frente: outro senhor, outra câmara de filmar, outras “paisagens”. Missão cumprida.
Durante a caminhada para o parque de estacionamento, de um momento para o outro, algo me veio a memória. No ano passado chegou à minha caixa de correio electrónico um e-mail com um vídeo nitidamente filmado por um amador, supostamente um voyeur, onde se conseguia ver durante vários minutos, com alguns cortes e solavancos pelo meio, o corpo desnudado de três “jeitosas” que, pelas informações que estavam em anexo no e-mail, estariam a fazer nudismo na praia do Meco. Na altura, lembro-me de ter pensado que conhecia aquela praia e que não me parecia a do Meco. Foi então que se fez luz: o Meco fica justamente na continuação daquela praia.

Conclusão: as revistas ao darem a conhecer os nossos magníficos paraísos nem imaginam a quantidade de outros “paraísos” que potencialmente possam vir a ser revelados. Com tanta gente a lucrar com isso – as próprias publicações, os voyeurs realizadores, os voyeurs em início de carreira, os fabricantes de câmaras de filmar, o gmail, etc. - quem sou eu para lhes estragar o negócio e o espectáculo, que é como quem diz, ser o “empata-fodas”, ou para ser mais preciso, o “empata-punhetas”?

quarta-feira, setembro 26, 2007

Uma boa ideia para o Sr. Isaltino Morais:

se conhece as dificuldades nos acessos do seu concelho em geral e ao Estádio Nacional em especial, bem como os horários onde há um maior tráfego de regresso a casa, ponderar melhor antes de aprovar a realização de um mega-concerto num dia útil. Mesmo que tal dê uma maior notoriedade ao seu concelho. Mesmo que em causa esteja uma banda prestigiada como os The Police.

terça-feira, setembro 25, 2007

Se isto é amor...


Os pais de Rosa não querem que ela estude. Querem-na a pastar o gado na serra e a trabalhar na terra, como eles.
Poder-se-ia simplesmente dizer que às vezes a felicidade que nos desejam raramente coincide com a nossa própria felicidade, mas estamos perante uma situação em que, para além desta questão de felicidade subjectiva ser importantíssima, tornou-se urgente denunciar mais um caso de escravatura camuflada.
E o amor dos pais? Amor em que haja uma subjugação a este nível só conheço o partilhado entre dois amantes que realizam jogos de submissão mutuamente consentidos. Estes são ambos adultos (e supostamente conscientes) e sabem ao que vão. Os outros, são os pais que não vêm (nem querem ver) um futuro diferente do deles para a sua filha. Se isto é amor...

sexta-feira, setembro 21, 2007

Um jornal sobrenatural

Na secção "cartas dos leitores" da edição de hoje do GN lê-se:
Como leitor do jornal gratuito Global Notícias, gostaria de fazer uma referência ao estranho título que aparece na edição de quarta-feira, na página 8: “Mortos avaliam hospitais”. Será caso para dizer que afinal de contas sempre há vida para além da morte!
Paulo Reis
Nota da Redacção: Agradecemos a este leitor a sua chamada de atenção, pois significa que nos leu com atenção. Lamentavelmente, o título tem uma gralha: em vez de “mortos”, deveria estar escrito “mortes”. As nossas desculpas.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Uno, dos, tres... problemazitos!

O meu primeiro carro foi um Fiat Uno. Um 60S, cizentinho escuro como os milhares que circulavam por aí nas nossas estradas no final dos anos 90. E este andava bem, mas aquecia ainda mais. Já não me lembro de quantas vezes tive que encostar à berma para o deixar arrefecer. Também “bebia” bem. Mais óleo que gasolina, o que seria até uma vantagem se o conservasse até aos dias de hoje! Era uma espécie de “kinder surpresa” em forma de carro e sem chocolate: sempre que saía de casa, ele surpreendia-me sempre com mais um problemazito para me entreter. Ou era um farol que saltava, ou um pisca ou um ou outro fusível que se fundiam, ou o tubo de escape que se soltava. Mas isso é banalíssimo, diriam vocês. No entanto, quando começou a fazer um barulho estridente sempre que carregava a fundo no travão, comecei a pensar que era dono de um carro muito pouco comum. No início até pensava que isso nem era assim tão mau na medida em que captava todas as atenções sempre que parava nos semáforos, mas eu queria mais... E o meu Uno, que nisso nunca me deixava ficar mal, deu-me mais... Mais problemas! Eléctricos para não variar. Depois do fecho centralizado – quem mandou a mim ter um chaço ferrugento com extras todos modernaços? – que, ao passar por qualquer imperfeição na estrada, trancava automaticamente as portas e fazia disparar simultaneamente o alarme, só faltava mesmo os vidros eléctricos! Estes avariavam-se constantemente e faziam questão de escolher os “belos” dias de chuva para pararem a meio do seu trajecto. Ah, recordo-me agora como era revigorante apanhar um segundo banho matinal! Numa das suas últimas visitas à oficina habitual, o senhor mecânico, já desesperado por não saber o que fazer com aquela avaria (in)constante, sugere-me que andasse com uma bisnaga de vaselina no carro. Eu, inocentemente, ainda questionei o que faria com tal produto, ao qual ele prontamente respondeu: “Olhe sempre que os vidros emperrarem besunte-os muito bem com isso e puxe-os devagarinho!”. Funcionou, mas poucos dias depois vendi o meu Uno e deixei o tubo da vaselina no porta-luvas, sem deixar qualquer explicação ao seu futuro proprietário. Fiquei com esperanças de que ele futuramente entendesse a sua utilidade e, tal como eu, viesse a descobrir, como é que a partir de uma experiência diferente se pode abrir à nossa frente todo um maravilhoso novo mundo da lubrificação.

terça-feira, setembro 18, 2007

Ménage


"Quero agradecer ao povo de Portugal por apoiarem a sua decisão de ajudar o povo do Iraque e do Afeganistão descobrirem a bênção da liberdade... aii e tu és tão atlético!"




"Hey boyzz! Can I..."

segunda-feira, setembro 17, 2007

sexta-feira, setembro 14, 2007

Na pior nódoa...


O amor tem futuro?

Não é socialmente aceitável não querer casar ou não ter uma relação. Isso deve-se ao facto de a ânsia pelo casamento estar tão profundamente entranhada no nosso subconsciente colectivo que constitui uma das nossas motivações pessoais mais poderosas. É a forma como tanto nos inspiramos como nos castigamos. Inspiramo-nos porque a ideia do casamento nos traz alegria e castigamo-nos por falharmos tão frequentemente no casamento.
Temos muitas relações que não são casamentos, mas no íntimo suspiramos pelo casamento e na nossa sociedade esta instituição sagrada é a norma de relacionamento.

O casamento transforma qualquer relação numa encenação, numa forma de passar o tempo da nossa vida, um empreendimento tradicional que nos agrada e distrai. Podemos sentir-nos cativados – e até temporariamente satisfeitos – com a forma familiar e as ternas convenções do casamento. Mas devemos recordar que é o amor, a energia profunda, bela e duradoura, que se encontra subjacente a todos os anseios e expectativas que levamos para as nossas relações. E as nossas almas, a parte divinamente imortal do nosso eu, querem mais. A alma quer profundidade, verdade e união e o apelo da alma, através de todas as novas formas de relacionamento que nos desprende dos laços da tradição, é o apelo a um amor maior.

Subscrevo algumas palavras de Daphne Rose Kingma no seu “O Futuro do Amor” – alguém próximo achou por bem oferecer-me este livro, pois é sempre bom ter prosperidade no “futuro do amor” quando o passado não foi lá muito prometedor – nomeadamente quando encara sem receios a ideia de que uma relação não tem que ser “perfeita”, ou que nada é eterno e que se vai ter mais que uma relação significativa na vida e dessa "nova" tendência de desligarmo-nos das tradicionais formas (de relações) e prendermo-nos mais aos seus conteúdos.
É sobretudo bom que entendamos isto: seja qual for o nome, uma relação é sempre uma forma de ligação com outro ser humano. É uma ligação que mostra não só o grau de distância que decidimos estar, mas também a singularidade do afecto que nutrimos por essa pessoa e o que esperamos que aconteça com ela na nossa vida. De vez em quando encontramos alguém com os propósitos coincidentes com os nossos.
Por mais assustadoras que pareçam estas palavras transcritas e todas as mudanças a elas associadas, tem-se que ter em conta que, como ela diz, a transformação das relações não significa a morte do casamento, significa antes que o casamento será glorificado. E eu diria credibilizado ou, mais importante ainda, consciencializado.

Estou a mais de meio deste pequeno livro e ainda não li nada sobre a promiscuidade nem sobre a descartabilidade das novas relações, mas só agora “ataquei” o capítulo das “Novas formas de amor” ou também por esta autora designadas: “Relações iluminadas” e ainda tenho esperanças que ela se faça esclarecer que, tal como "não há relações perfeitas", não há “futuros (amorosos) perfeitos”, para ninguém!

domingo, setembro 09, 2007

O dilema de Susana

Há mulheres fisicamente discretas e há mulheres fisicamente vistosas, com ou sem uma vestimenta apropriada. A Susana faz parte do lote das vistosas e das que se veste a condizer. Digamos que o seu criador foi bastante generoso com as suas formas físicas e ela faz toda a questão em partilhar isso com o resto do mundo. Tal não é muito bem visto por grande parte dos restantes elementos femininos do nosso grupo de amigos e nunca percebi bem porquê. Bem, até percebo. Pelo menos a parte que salta logo à vista. Os amigos (rapazes) dividem-se: (tal como as raparigas) há um grupo de “incomodados”, depois há os “tótós”, como eu, que sobrepõem a sua companhia em detrimento de tudo o resto que ela poderia eventualmente oferecer como alternativa e há os “artistas esperançosos”, que fazem dela a sua “musa inspiradora” nos seus momentos mais íntimos e... “enérgicos”. Para estes, o decote da amiga Susana é mais misterioso que mil e uma expressões da Mona Lisa e excitante que todas as sinfonias de Beethoven juntas.
Susana é vulgarmente designada por uma mulher provocante, não é, no entanto, e para desapontamento de muita gente, uma mulher provocadora. Mas isto faz algum sentido: alguém consegue ser provocante sem ser provocador? Marquei há dias, num centro comercial, um encontro com a Susana. Há hora e no sítio combinado já lá estava ela a olhar para a montra de uma loja. Mesmo por trás reconhecia-a a vários metros de distância. Desta vez deixou a mini-saia em casa, mas trouxe o “mini-top” e as suas jeans mais apertadas. Chego-me junto dela e prego-lhe um pequeno susto. Ela ri-se e cumprimentamo-nos. Penso: sempre que a vejo, passado todos estes anos de amizade, esta rapariga nunca me deixa de surpreender. Há sempre algo diferente nela. Para além de que cada dia que passa parece que ela me vai revelando mais de si. (Mal sabia eu que desta vez seria algo mais que um novo centímetro do seu corpo.)
Enquanto caminhamos para a zona dos restaurantes, reparo nos olhares dos outros passeantes. Reparo sobretudo nos olhares dos outros homens, alguns com outras companhias femininas por perto. Uns mais discretos, outros mais descarados, ao ponto de até eu, sempre muito distraído em ambientes deste género, ter ficado incomodado. No momento em que questionava-me como é que ela conseguia ultrapassar todas aquelas contemplações mais fervorosas - pensava que provavelmente já estaria habituada e que tal faria parte do jogo da sedução - ela envolve o seu braço no meu e diz-me algo carinhoso que não fez muito sentido, nomeadamente naquele momento e naquele local. Pelo menos até eu perceber o verdadeiro objectivo daquele acto.
É este o dilema de Susana: ser provocante sem gostar de ser provocada.