Antes de partir nesta aventura chamada "Breaking Bad" confesso que estava muito céptico. O que diziam por aí: um subvalorizado professor de química que atravessa a sua "midlife crisis" e transforma-se num "drug dealer"? A minha tendenciosa imaginação criou logo qualquer coisa semelhante a uma versão masculina da "Weeds" e essa ideia parecia-me tudo menos atractiva. Para além de que os "Sopranos" e o "Dexter", dificilmente deixariam partilhar o meu coração com uma nova série onde se demonstra que o crime compensa (pelo menos por uns bons momentos) e que até pode ser desculpável. Ainda assim, arrisquei. E ainda bem que o fiz.
A boa surpresa, para além de constatar que a história de "Breaking Bad" é muito mais que aquele "plot", é perceber que um dos factores que à partida seria o menos apelativo, os protagonistas, revelou-se um dos pontos fortes do sucesso desta aposta da AMC (a mesma estação que também recebe hoje - justamente - todos os louros com "Mad Men"). Bryan Cranston (que já não tinha passado despercebido em "Malcom in the Middle"), partilha as suas brilhantes actuações com um grupo de actores quase desconhecido mas surpreendentemente muito profissional. Também é certo que um bom argumento ajuda a dar mais profundidade às suas personagens, mas também é verdade que sem este conjunto de artistas, "Breaking Bad" não tinha metade desse realismo desconcertante - ao ponto de facilmente nos conectarmos com qualquer uma daquelas pessoas - que a caracteriza.
Cada sequência, de cada episódio, das três épocas já emitidas são fundamentais para se entender esta série e, consequentemente, dar mais credibilidade aos seus inesperados "twist". Há então essa preocupação pelo detalhe levada ao extremo, que baralha num episódio e dá no outro (não propriamente no seguinte). Depois há os diálogos hilariantes, a fotografia irrepreensível que revelam-nos o melhor do Novo México... Já disse que o argumento é genial? "Breaking Bad" pode ser catalogada como comédia negra mas o seu assunto é sério e na perspectiva do espectador ele chega a ser moralmente ambiguo: apesar de condenarmos as suas atitudes, nunca deixamos de estar ao lado do principal protagonista desta história. Essa pode ser uma das qualidades que distingue “Breaking Bad” de parte da obra cinematográfica dos irmãos Coen e de Tarantino, que talvez seja o material de Hollywood que mais se aproxime do que se vê por aqui. Ninguém precisa de passar pela experiência de ser produtor de metanfetamina (a sua fórmula, C10H15N, não aparece logo no genérico da série por acaso...) para perceber que qualquer decisão radical que tomemos terá as suas consequências (radicais) e que precisamos de estar devidamente preparados para estar à altura de as enfrentarmos. Este sim é o verdadeiro mote de "Breaking Bad". Desengane-se quem acha que ali diz-se que a droga é "cool" e que o seu negócio é "easy, bitch"!
Torna-se também interessante constatar como a química entra no enredo, não só na sua aplicação concreta como no seu sentido mais metafórico. Quando as personagens são elementos que se ligam e reagem entre si e o resultado da energia desprendida ou absorvida durante estas relações resultam, nem mais nem menos, numa série deste calibre. Se tudo começa com um muito simples e reservado americano da classe média que após de ter-lhe sido diagnosticado cancro, transforma-se numa espécie de anti-herói no mundo do narcotráfico, parece-me completamente imprevisível saber quando e como irá parar a viagem nesta montanha russa de acontecimentos, que mais que não é do que uma espantosa aventura do autoconhecimento. Enquanto ele, Walter White, já se questiona da razoabilidade de toda esta loucura (em que se transformou a sua vida), o fã (eu, por exemplo), por seu lado, questiona como é possível viver sem ela! Depois de 33 intensos episódios e enquanto não estreia a quarta temporada, é só isso mesmo que interessa saber: como é que se (sobre)vive sem "Breaking Bad"?