Os emocionantes
relatos de viagem (por África e não só) de um homem à procura de si próprio,
podiam ser razão mais que suficiente para recomendar este “Um Quarto
Desconhecido”, de Damon Galgut.
Só que este livro é muito, muito mais que isso.
Só uma obra assim
poderia revelar este outro lado das longas caminhadas e das viagens sem data de
regresso: a angústia e o desespero do viajante que ainda não conseguiu
estabelecer uma relação duradoura com alguém, que o faça ficar imóvel.
(...)
Uma viagem é um
gesto inscrito no espaço, desaparece à medida que vai sendo feita. Vamos de um
sítio para o outro, e seguimos para outro lugar ainda, já não existindo atrás
de nós vestígio da nossa presença. As estradas que percorremos no dia anterior
estão agora cheias de pessoas diferentes, nenhuma delas sabe quem somos. No
quarto onde dormimos a noite passada, jaz um desconhecido na cama. A poeira
tapa-nos as pegadas, as nossas dedadas são limpas da porta, as provas que
tenhamos deixado cair são varridas do chão e da mesa e deitadas fora para nunca
mais voltarem. O próprio ar fecha-se atrás de nós como água e pouco depois a
nossa presença, que parecia tão ponderosa e permanente, desapereceu por
completo. As coisas só acontecem uma vez e nunca se repetem, nunca regressam.
Excepto na memória.
(...)
Se eu tivesse
feito aquilo, se eu tivesse dito aquilo, no fundo atormenta-nos mais aquilo que
não fizemos do que aquilo que fizemos, as acções já realizadas podem sempre ao
fim de um tempo ser racionalizadas, o acto negligenciado poderia ter mudado o
mundo.
(...)
É possível que
quando duas pessoas se encontram pela primeira vez estejam contidas nas suas
diferentes naturezas todas as possíveis variações de destino. Estas duas
sentir-se-ão atraídas uma pela outra, estas duas repelir-se-ão, a maior parte
cruzar-se-á desviando educadamente o olhar, acelerando o passo dentro da sua
solidão.
(...)
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