domingo, abril 12, 2015

A linguagem universal do amor e do ódio




Ainda sobre as relações intrínsecas entre as misérias social e moral... Lembrei-me de um filme ucraniano que vi recentemente. “The Tribe” relata a história de integração de um jovem numa escola, ou mais concretamente, num grupo (numa “tribo”) com alunos provenientes de classes baixas e com condições especiais, neste caso: a surdez. Durante todo o filme não se fala (nem se escuta) uma única palavra; todos os protagonistas comunicam por linguagem gestual e os seus diálogos tornam este filme num desafio muito interessante para a sua assistência. No entanto, mesmo que os únicos e perceptíveis sons que saiam daquelas bocas sejam de exclamação, raiva e dor (um aborto é sempre uma situação desagradável de se ver em cinema, a cena de aborto neste filme eleva para um outro patamar qualquer nível de desconfortabilidade que se possa ter), toda a narrativa do filme é facilmente compreensível. Aliás, em termos de intercomunicação (e não só), “The Tribe” deve ser bastante superior a qualquer um dos filmes que estão em cartaz este momento em Portugal.
Trata-se, também por isso, de um filme cru, ríspido e muito violento e no meio de um ambiente gélido, ocupado por seres humanos insensíveis “em construção”, entra uma emoção em jogo, que vai tornar a história ainda mais devastadora e trágica. Sobretudo, porque uma paixão facilmente se converte em obsessão e não se encontra um amante mais fiel e indestrutível que um obsessivo. 

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