Ainda sobre as
relações intrínsecas entre as misérias social e moral... Lembrei-me de um filme
ucraniano que vi recentemente. “The Tribe” relata a história de integração de
um jovem numa escola, ou mais concretamente, num grupo (numa “tribo”) com alunos
provenientes de classes baixas e com condições especiais, neste caso: a surdez.
Durante todo o filme não se fala (nem se escuta) uma única palavra; todos os
protagonistas comunicam por linguagem gestual e os seus diálogos tornam este
filme num desafio muito interessante para a sua assistência. No entanto, mesmo
que os únicos e perceptíveis sons que saiam daquelas bocas sejam de exclamação,
raiva e dor (um aborto é sempre uma situação desagradável de se ver em cinema,
a cena de aborto neste filme eleva para um outro patamar qualquer nível de desconfortabilidade
que se possa ter), toda a narrativa do filme é facilmente compreensível. Aliás,
em termos de intercomunicação (e não só), “The Tribe” deve ser bastante superior
a qualquer um dos filmes que estão em cartaz este momento em Portugal.
Trata-se, também
por isso, de um filme cru, ríspido e muito violento e no meio de
um ambiente gélido, ocupado por seres humanos insensíveis “em construção”, entra
uma emoção em jogo, que vai tornar a história ainda mais devastadora e trágica.
Sobretudo, porque uma paixão facilmente se converte em obsessão e não se
encontra um amante mais fiel e indestrutível que um obsessivo.
THE TRIBE TRAILER 2014 from Oleksiy Yevtukh on Vimeo.
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