Os seres humanos
são contraditórios por natureza, mas essa situação tem tendência a agravar-se quando
o mundo à sua volta torna-se ainda mais incoerente. Como alguém que deseja a
serenidade absoluta ao mesmo tempo que vai exaltando a anarquia.
Assim foi Kurt
Cobain. Alguém que utilizou o isolamento, a humilhação e a (consequente) raiva
como impulsionadores do seu processo criativo. O seu rancor não se deveu tanto a um reconhecimento ou uma integração tardia (sobretudo depois de ter
encontrado algum aparo na pior das suas companhias – não, nem foi a Courtney
Love, foi mesmo a heroína), mas sobretudo porque esse reconhecimento/integração
surgiu subitamente de uma forma estrondosa, em modo de fenómeno musical à
escala global: os Nirvana. Ninguém estaria a espera disso, principalmente o
Kurt Cobain. Num dia vives atrapalhadamente numa pequena cidade do estado de
Washington, no outro já és a porta-voz de uma geração! É aqui que a anarquia, a
pacatez e o mediatismo se tornam totalmente incompatíveis. Um conflito que a
constituição de uma família e o nascimento de uma filha não resolveram. Recordo:
era um conflito interior.
O documentário “Cobain:
Montage of Heck” também é uma viagem até ao interior da mente de um dos últimos
grandes génios da cultura norte-americana. A questão é que nem todos estaremos
preparados para uma viagem tão atormentada. Aliás, como se sabe pelo final “desta
história”, nem o próprio estaria.
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