são uns metros a pé por um dia no paraíso
Esta praia é
bonita mas não é todo esse paraíso que lhe chamam.
Só confirmo os
tons turquesa do mar. De resto, da temperatura do mar e antes que se coloque um
pé dentro de água, é preciso não esquecer que estamos à beira do Oceano
Atlântico... E se estamos à procura de algum sossego, é preciso não esquecer
que estamos em Portugal, onde os aglomerados populacionais sucedem
espontaneamente por cada novidade ou fenómeno em ascensão.
Ainda assim, tal
facto acontecer ali, não deixa de ser surpreendente. Sobretudo se tivermos em
consideração as difíceis condições de acesso à praia – a parte final é um
autêntico labirinto, onde convém estar muito atento à “bolinha vermelha” (às
tantas isto também podia ser um sinal de aviso para o que se podia ver lá em
baixo) pintada em algumas pedras encontradas ao longo do percurso, já para não
falar de que este é feito em acentuado declive.
Também acredito
que muitos visitantes cheguem à praia através do mar: de barco, de kayak, de
“stand up paddle”... a nado – presenciei um pouco de tudo. O que também é certo
é que a meio de uma escaldante tarde de um dia útil, aquela suposta praia
deserta devia fazer concorrência às mais populares da vizinhança.
Eram sobretudo
casais de namorados. Aliás, para ser mais preciso, excluindo a meia dúzia de
turistas e o respectivo guia que “estacionaram” os seus kayaks na beira-mar,
esta praia era populada somente por casais com uma média de idades que rondaria
os vinte e poucos anos... E as suas infinitas “selfies”... E os “selfie
sticks”... E está mais que provado que não há limites para o narcisismo humano.
Ainda pensei se
não tinha sido inadvertidamente apanhado em plena rodagem de um remake do novo
filme do cineasta grego Yorgos Lanthimos: The Lobster.
Lá mais para o
final da tarde, quando a temperatura do ar ameaçava baixar dois ou três graus,
o clima daquela praia aqueceu. Era vê-los abraçados, enrolados, aos longos
beijos, algumas mãos que não se conseguem esconder dentro de biquínis
reduzidos, corpos semi-suados e emparelhados... Foi o momento que considerei
ideal para arranjar forças para fazer o percurso de regresso ao carro e fugir
de cena.
Olhei uma última
vez para aquele “paraíso perdido” (o da natureza, atenção) e lá fui eu, qual
bode do Atlas marroquino, declive acima!
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