Passam na TV, no mesmo dia da semana e quase à mesma hora, dois concursos associados ao mundo da moda: o da RTP para estilistas, o da SIC para modelos. O primeiro, e apesar de ser minimalistamente conduzido por uma Nayma apática, parece-me ser bem mais interessante que o segundo. No entanto foi a ver o segundo que tirei a grande ilação da noite. A saber.
"À procura do sonho (
Face Model Of The Year 2010)" é um concurso normalíssimo de descoberta de novos talentos para a passerelle. Há dois grupos, um de rapazes e outro de raparigas, uns com um registo de pós-adolescência mais visível que outros, mas não sobram dúvidas de que todos estão ali para procurar um "sonho", que pode virar pesadelo (recordo-me do drama da concorrente que na mesma semana ficou com um desgostoso e radical novo corte de cabelo e um passaporte para regressar a casa).
Na edição de ontem, sob os desígnios da sessão fotográfica, os quatro elementos da natureza eram o mote. Para cada elemento, um fotógrafo e quatro modelos. Logo à partida, pareceu-me óbvio que a prova seria limitada, sobretudo ao profissionalismo do fotógrafo e às suas ideias e exigências. Portanto, fica provado que, até num mundo tão "objectivista" como é a moda, a sorte também é um factor a ter em conta. Que o digam os concorrentes bafejados pelo "Fogo" e pelo respectivo fotógrafo, que utilizou como único cenário o fumo artificial e era esse o único obstáculo daqueles modelos: ingerir fumo (?), já que a maquilhagem, o
outfit e a pose banal fizeram o resto. Pior cenário deparou-se quem lhe calhou a prova fotográfica dentro de um tanque de água fria ("Água") ou os que tinham de saltar de uma plataforma para um colchão ("Ar"). Mas os resultados que acabaram por surtir mais efeitos negativos, foram os realizados no campo ("Terra"), não tanto devido à prova em si mas às exigências da fotógrafa. Um dos modelos não conseguiu chegar ao nível de "macho latino" solicitado pela profissional e uma das concorrentes não demonstrou grandes dotes de expressividade ao longo da sessão, aliás - tudo isto palavras da própria fotógrafa - naquela rapariga só as pernas lhe pareciam de valor. No fundo, pensei, passa-se o mesmo com certos fotógrafos: só se aproveita a máquina fotográfica.
Sessões terminadas, chegou a vez do júri fazer a sua avaliação. Naquele, reconhece-se imediatamente a Fátima Lopes (a estilista), os restantes dois elementos são-me desconhecidos - se bem que ambos captam-me a atenção, a senhora porque pareceu-me uma versão zen d'"a amiga Olga" (Cardoso) e o rapaz porque tinha uma t-shirt curiosa, criativa. Foi entrando um concorrente de cada vez e foi-lhes dito, tudo o aquilo que os fotógrafos foram desabafando ao longo das sessões. Logo, não havendo novidades, a quem correu pior a prova, foi eliminado do concurso. Curiosamente foi o que sucedeu a dois dos jovens que tinha achado que o resultado final tinha sido longamente superado e apresentaram fotos magníficas: o rapaz que não conseguiu fazer um ar "de macho-latino", que, no entanto, a nível de masculinidade (e naturalidade) teria tanto para ensinar aos que permaneceram em concurso e a rapariga "inexpressiva", que me surpreendeu... Pelo seu olhar profundo e porque é dona de umas belíssimas e longas pernas que nunca tremem sobre saltos altos (portanto, a léguas de outras finalistas que nem dois segundos aguentam sobre saltos).
Enfim, acho que todos aprenderam mais qualquer coisa. Até eu. Aprendi que, segundo estes critérios de avaliação, não percebo patavina do assunto e que devia arranjar algo mais interessante para fazer ao domingo à noite.