Finalmente alguém entendeu que uma irracionalidade naturalmente
“perigosa” não se resolve com uma irracionalidade humanamente ainda mais
perigosa. Finalmente alguém entendeu que em vez de raças de cães, se deve
catalogar os donos – eu até iria mais longe: a compra de certas espécies de
animais deveria estar sempre sujeita à avaliação das capacidades do respectivo
dono e das condições que tem para oferecer ao animal e, posteriormente, sujeito
a uma fiscalização efectiva.
Enquanto por cá a culpa também não morre solteira. Morre
nos canis municipais. E face a isso, só
me ocorre uma palavra: vergonhoso.
Mas o que fazer? Parece-me congénita essa viciosa tendência
para falhar o alvo da culpa, sobretudo quando há seres humanos no centro do
alvo e há outros seres vivos (ou objectos) por perto (e bem mais a jeito). Há miudos
a morrer às dezenas nas piscinas domésticas? Culpada: a piscina, e toca a fazer
umas campanhas a alertar para os seus perigos. Há putos a cair em buracos e
poços por todo o lado? Tapa-se já tudo! Continua a haver gente a circular nas
estradas, depois de emborcar meio garrafão de vinho tinto e meia bagaceira, e a
matar quem lhe apareça à frente? A culpa é do alcool: reduza-se a taxa legal de
alcoolemia e aumente-se as multas! E, agora no verão, quem não gosta de se
armar em lagarto e apanhar nos lombos meio dia de torreira? Olha um melanomazinho!
A culpa é “deste” sol!...