sábado, setembro 22, 2012

Homens Sexuais



Não há muito tempo, entrei numa casa de banho pública de um conhecido “mega” espaço comercial em Viseu. Dirijo-me a um dos urinóis. Entretanto entram três homens (dois deles mantinham um animado diálogo) e preenchem cada uma das cabines individuais.
Todos entramos naquele espaço público com o mesmo objectivo: urinar, mas todos tinhamos (pelo menos) a consciência de que há, naquele lugar, todo um “novo mundo” que anda a ser explorado, para além daquela necessidade fisiológica. Daí que os outros homens tenham optado pela privacidade dos cubículos... Como uma ampla casa de banho pode ser tão minúscula para quatro homens.





António da Silva, um cineasta português radicado em Inglaterra, apresenta este fim de semana a sua mais recente obra no Festival Queer Lisboa: Bankers.

Confrontado com a questão da promiscuidade, li numa outra entrevista uma resposta sua que considero ainda mais interessante: “Não me importo de ser visto como o realizador que filma a promiscuidade gay. Mas nos próximos dois/três anos vão haver muitos mais a fazerem o que eu faço e espero que nessa altura as pessoas consigam ter uma perspectiva mais construtiva em relação à palavra “promiscuidade”.” De facto, já é tempo de termos uma visão menos crítica e mais interpretativa deste termo. Como por exemplo, tentar entender as causas deste fenómeno.
A ideia de que a maioria destes homens, que se auto-classificam sem hesitações de heterosexuais (as alianças nos dedos estão lá para não enganar ninguém), e que fazem do engate circunstancial com outros homens, em WC públicos, o seu passatempo favorito, também vem ao encontro de que a teoria das catalogações (ou orientações sexuais) não passa disso mesmo: uma teoria. Homossexuais, heterossexuais, bissexuais - o problema está no prefixo. Pois no fundo, naqueles recantos dos urinóis, e ao contrário do que os outros e, sobretudo, do próprio, possam pensar, só há ali homens sexuais. Um primo afastado do Australopiteco, que desceu das árvores, sedentarizou-se, constituiu família, vestiu fato e gravata e até já gere investimentos de milhões, mas continua a “brincar” com a pilinha dos outros como antes. Há características demasiado congénitas à espécie para sofrerem qualquer mutação.


(“Bankers” passa dia 23 de Setembro, às 23h59, na Sala Manoel de Oliveira, e dia 27 de Setembro, às 23h30, na Sala 3 do Cinema São Jorge, ou pode ser visto online em qualquer altura, mediante o pagamento de um donativo na sua página oficial.)

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