Recordo-me como
se fosse hoje. Era um final de tarde, enquanto arrastava o carrinho com as
compras da semana, procurava uma caixa aberta e com o mínimo de fila de espera.
Achei. Enquanto confirmava se não era daquelas caixas que está aberta mas que
fecha justamente no momento que começamos a colocar os nossos produtos no
tapete, começo a fazer um exercício de memória para saber se não me esqueci de
comprar nada do que era suposto.
“Boa tarde. Tem o
cartão Família?”...
Entretanto
ouve-se por todo o supermercado a voz de uma senhora a anunciar que “chegou o
momento de anunciar mais um feliz contemplado do sorteio do nosso aniversário”.
Não ligo e continuo a despejar as coisas no tapete. Subitamente dispara o
alarme de detecção de roubo da caixa onde estava, bem como o número da
respectiva caixa começa a piscar ininterruptamente. “O que é que eu fiz?”
Depois começam a
acontecer demasiadas coisas ao mesmo tempo: era a senhora do altifalante que
não se calava com o aniversário do Carrefour, eram as pessoas nas restantes
caixas e parte da loja e do centro comercial, umas igualmente surpreendidas a olhar na minha
direcção, outras a bater palmas, era a senhora da caixa, de sorriso rasgado, a
congratular-me, o senhor que estava atrás na fila que queria cumprimentar-me...
E eu com um pacote de esparguete na mão só me apetecia fugir dali para fora. E
o alarme não parava de tocar.
Logo de seguida, pelo
corredor exterior do centro comercial, a empurrar um carrinho cheio de compras,
chega um senhor de gravata que automaticamente identifica-o com sendo
funcionário daquele local. “Parabéns... O seu prémio! Vamos tirar uma foto para
colocar no placard de honra?”. “Vamos!?” e lá fui eu, supermercado a fora, lenta
e esforçadamente, a empurrar um carrinho de compras cheio em cada mão.
Foi a primeira e
última vez que ganhei algo de significante num sorteio, sobretudo, inesperado.
E, por isso e por muitos outros motivos, gosto de recordar com algum saudosismo
a presença do Carrefour em Portugal.
Tenho saudades de
andar livremente em corredores largos (o espaço de outrora é ocupado hoje por
um Continente, uma Worten, uma agência de viagens e uma cafetaria), onde se
podia comprar de tudo, do bacalhau ao mega-plasma, do empadão de carne ao
DVD de um filme mais “indie” em promoção... Tenho saudades de comprar produtos
da marca da casa, em que às vezes nem sabia muito bem o que era, só porque alguém se
tinha esquecido de colocar o rótulo em português. Mas que me sabiam bem,
sabiam.
Foram pioneiros,
entre outras coisas, na introdução do cartão de descontos em cadeias de
supermercados em Portugal e graças (também) a isso, obrigaram os seus
adversários a mudar de estratégia. No entanto, perderam essa guerra do mercado
retalhista nacional e abandonaram o campo de batalha. Eles ficaram com os louros
dessa retirada, 662 milhões de euros para ser mais preciso, e eu fiquei com as boas
recordações, que não tem preço.