A pedalar e a caminhar, por entre
caminhos pedestres, bravios e dunares assim se fez a minha última incursão à
costa vicentina.
Com algum tempo disponível (nem
lhe chamaria férias), já longe das grandes concentrações de veraneantes, em época
baixa (a carteira agradece, sobretudo desde que a zona foi descoberta pelos
especuladores imobiliários e não só), mas com a temperatura em alta, lá fui eu
rumo a sul.
Há uma estrada de terra que
acompanha paralelamente quase toda a velhinha estrada secundária entre Sines e
Porto Covo, onde é logo possível encontrar pequenos e secretos paraísos
balneares. Basta, para isso, estar atento e descer pelas várias “escadas
naturais” que a força daquele mar foi construindo ao longo dos anos, sobretudo,
sempre que foi arremessando grandes pedras contra a ravina. Alguns quilómetros
mais adiante, antes de chegar a Porto Covo, esses meios de descida tornam-se mais
seguros e recomendáveis a todos os visitantes, ou pelo menos aqueles que
estejam dispostos a descer e (sobretudo) a subir umas boas dezenas de degraus.
Por aí, as praias já ganham nome e até uma placa de azulejo. Ainda assim, até
elas estavam praticamente desertas ao meio de uma manhã, atipicamente quente,
de meados de Outubro.
Desci até ao bairro piscatório de
Porto Covo para aceder à outra margem. Atravessei, para tal, um pequeno riacho
que desagua no mar. Depois de uma íngreme subida, já lá no alto a vista é
antagónica, de um lado é difícil não reparar nos contrastes do azul do mar com
as marcas de civilização industrial de Sines, do outro, a bela Ilha do
Pessegueiro, perdida algures no passado.
A estrada de terra batida que
acompanha a costa - e que nos leva até a mais uma praia deserta (não assim tão
distante da zona mais frequentada, só separadas por um vasto aglomerado de
rochas) – acaba junto de uma estrada alcatroada. É esta que passa pelo parque
de campismo da Ilha do Pessegueiro e acaba junto ao velho forte com o mesmo
nome. Depois, novamente uma estrada de terra e (esta) em óptimas condições
continua o caminho para sul, sempre com o mar no horizonte.
Aquele caminho leva a outros - uns
que me levam, por engano, a habitações particulares, outros que levam a
miradouros improvisados. Assim é até se começar a avistar um sistema de dunas
de grandes dimensões que me levou até à zona dos Aivados. Até lá o percurso
fez-se penosamente por entre estradas de areia ou pelos desníveis típicos de um
sistema dunar. Pelo caminho descobri mais algumas praias secretas, ornamentadas
em toda a sua extensão por um longo caminho de pedras arredondadas e de todos
os tamanhos. Uma frequentada por alguns surfistas, outra por pescadores locais
e as restantes por quem as quisesse descobrir.
Para regalo dos meus olhos, dos
Aivados ao Malhão, a paisagem não muda muito. Tirando o facto de nunca ter
encontrado uma zona de dunas que se assemelhasse tanto a um deserto, com toda a
sua infinitude e magnificência, como aquela que abraça o Malhão.
Não fui a um deserto africano, mas
com o calor “moderado” alentejano e algum espírito de sacrifício e de
insignificância perante o que me rodeava, já deu para transformar umas “férias”
fora de época numa espécie de viagem espiritual.
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