Depois de ver a sua
primeira temporada, consigo perceber porque o relato intimista da vida de uma “atípica”
família de classe média americana é tão impopular quanto premiada (ganhou,
entre outros, o Globo de Ouro e o Satellite Award para a melhor série do ano). “Transparent”
(Amazon) é uma série muito mais educativa do que de entretenimento.
O pai desta
família, interpretado por um inacreditável Jeffrey Tambor (também recebeu um
Globo de Ouro por este papel), decide, após algumas investidas no mesmo sentido
no passado, transformar-se numa mulher... que continua a ter atracção por
mulheres. Interpreto isto como sendo uma espécie de veneração suprema do
mundo feminino, ao ponto de querer transformar-se (visualmente, sobretudo) numa mulher. É aqui que se aprende a diferença entre identidade
sexual e identidade de género. No entanto, a complexidade desta personagem não
se fica por aqui, aliás, a complexidade da vida íntima acaba por ser um facto comum
aos seus três filhos.
Estamos perante
uma série que desafia as noções mais básicas do que é um género, ou melhor, como
os órgãos sexuais e os cromossomas acabam por ser insuficientes para qualificar
um género. É aqui que se aprende e celebra a ideia de que somos todos, acima de
todas e quaisquer outras catalogações, seres humanos. Como alguém diz lá pelo
meio: “We’re just a bunch of bodies... and some of us have penis”.
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