segunda-feira, agosto 27, 2007

Uma herança deturpada

Já nos tempos do Malato, o jogo da “Guilhotina Final”, gerou polémica. Nessa altura, por vezes, também era muito difícil desvendar o enigma e sair um pouco mais rico daquele concurso. Na versão “Herança de Verão” 2007 tornou-se ridiculamente difícil. Esclareço: não é a palavra-solução que é rocambolesca, são as respectivas pistas. Para soluções tão óbvias como “(Os) Lusíadas”, “Índia” ou mesmo “Pai” arranjaram 5 palavras (pistas) com elas relacionadas que só com muita capacidade de imaginação se chegaria lá. Exige-se um esforço sobre-humano: para acertar no “enigma” é preciso ter uma capacidade imaginativa a quintuplicar! Ou seja, é perfeitamente notório que a RTP quer tanto que aqueles concorrentes, que se sujeitam a tal processo de fustigação intelectual, ganhem o valor do prémio final (que com os cortes da “guilhotina” facilmente pode passar de mais de 100 mil para uns míseros cinco mil euros), como eu quero mergulhar num lago cheio de piranhas.
Por outro lado, há dias (poucos) em que o “enigma” é muito fácil, até parece que a RTP decide inverter os papéis e ser uma “mãos largas”. Aconteceu recentemente com um concorrente que tinha previamente prometido dar parte do que ganhasse a dois dos concorrentes que tinham sido derrotados por ele. Nada contra gestos de solidariedade. No entanto depois de serem apresentadas 4 pistas semi-óbvias e aparecendo um “Jack Sparrow”, pareceu-me demasiado evidente – sobretudo se compararmos com o grau de exigência (e de imaginação) de outras “guilhotinas”* - que a solução final só pudesse ser “Pirata”. E era, claro. E o senhor acertou, como não podia deixar de ser. Ainda bem. Mas se a minha teoria tiver certa e se um concurso só for ganho, não por inteligência ou perspicácia, mas sim por simples caridade ou simpatia, não há regras que lhe valham! Ainda digo mais (como isto supostamente é um jogo): estaremos, nem mais nem menos, no domínio da pura batotice.

*Ainda numa das sessões da semana passada, as últimas pistas a serem colocadas na mesa foram: “XIX” e “Tony Ramos”. Exigia-se que a concorrente associasse o famoso actor brasileiro a uma novela do “tempo da Maria Cachucha”, chamada “Pai herói” e que com uma numeração romana - que induzia um provável século - se chegasse a uma data importante: 19 (de Março), dia do Pai. Quem falou em batotice?
Gostei de ver a cara da concorrente depois de a apresentadora mostrar o cartão com a solução, parecia mesmo querer dizer: “Não há “Pai” para esta palhaçada!”.

2 comentários:

João Dantas disse...

Estou 100 por cento de acordo contigo... A RTP consegue transformar um óptimo jogo intelectual num ridículo e desmoralizante nutcracker...

heranca-de-verao.blogspot.com

O Puto disse...

É mesmo ridículo. Mais valia reporem o "Trevo da Morte", uma sátira que o Herman José fez ao "Trevo da Sorte".