quarta-feira, setembro 30, 2015

Maldito fado



Por regra, mais de 40% (em eleições Europeias essa percentagem sobe para os 60%) da população votante em Portugal não desempenha esse direito cívico. Uma parte por puro desinteresse, outra por decepção e desconfiança com a classe política em geral, mas todos, em sintonia, irão passar os 4 anos seguintes a descartarem-se da responsabilidade de não terem sido eles a colocar “aqueles aldrabões no poleiro”. Pois não, mas contribuiram com o seu não-voto para que esses “aldrabões” tivessem mais deputados, maiorias absolutas e controlarem todas as decisões que regem o seu país.
Nas eleições do próximo domingo vai ser assim novamente. Uma boa parte da população portuguesa vai estar a ver a bola, a assobiar para o lado ou com a cabeça enterrada na areia, em vez de contribuir para uma Assembleia mais heterogénea, mais democrática e sobretudo com mais probabilidades de ter gente verdadeiramente independente e que esteja disposta a fazer algo pelo país e não apenas aproveitar-se do estatuto de deputado para progredir na carreira. Gente fora de ambientes dos “jotinhas”, entre outros projectos de “tacho” tipicamente republicano e tão português. Até quando será este um dos nossos mais malditos fados?

Sociopata em construção

Todos os hóspedes que acabam por vir parar (uns por fruto do acaso, outros devido às estratagemas de alguém...) ao Motel do pai de Ted nunca lá mais regressam. Tal como a mãe de Ted que o abandonou e trocou a sua família por uma boleia de um hóspede rumo à Flórida... É neste ambiente desolado e desprezado que um miúdo (Ted) vai desenvolvendo as suas tendências sociopatas.
Uma das críticas que apontam a este "The Boy" é que tem demasiadas cenas dispensáveis, que não acrescentam nada ao enredo. Ou seja, que o seu realizador deveria ter ficado pela premiada curta-metragem ("Henley"), que serviu de inspiração e deu origem a esta "longa". 
Não podia estar menos de acordo. Cada sequência de imagem neste filme parece-me fazer todo o sentido. Não são mais que todas as pistas para entendermos a evolução de uma mente perturbada e como ela vai arquitectando os seus planos. Um facto assustador é saber que o dono desta mente tem 9 anos. Um facto ainda mais assustador é que o filme coloca-nos do seu lado, do lado perverso da história e a torcer para que tudo corra pelo pior.

quarta-feira, setembro 16, 2015

Porque é que o Tom Hardy (ou qualquer outra pessoa neste planeta) não tem que responder a questões sobre a sua sexualidade se não quiser

(....) A large part of our obsession with celebrity sexuality comes from a societal obsession with labels; with defining people; with putting everyone in boxes. In a way, we feel an added sense of “ownership” over celebrities, by nature of them being in the public sphere: What is mundane in our own lives becomes interesting and news-worthy in theirs. (Stars: They’re not just like us.) There are countless magazines and websites specifically dedicated to this fascination with the famous; and even if we don’t actively read them, the onslaught of gossip is always in our peripheral. This lures us into a false sense of intimacy, and causes us to feel entitled to certain information — but there are certain topics that should be off limits, sexuality included. (I can think of a few exceptions — e.g., if a public figure’s actions in private have effects on the greater good — but these exceptions don’t apply to Hardy.) (...)

Se bem que aquela - "Do you find it hard for celebrities to talk to media about their sexuality?” - até seria uma pergunta muito legítima, se não tivesse sido colocada naquele contexto e depois, na sua reformulação, tivesse sido levada a ter uma interpretação pessoal. Provavelmente continuaria a ser a pergunta errada a fazer alguém que considera que a sexualidade não é algo mais do que colocar uma pila dentro de algo/alguém.

quinta-feira, setembro 10, 2015

terça-feira, setembro 08, 2015

De mente bem aberta



Entre os devaneios e os sonhos de uma cega, desenvolve-se o drama de uma mulher naquelas condições. Ela nunca sai do seu apartamento - apesar dos incentivos de um marido ausente e “workaholic” para que faça o contrário - mas os seus pensamentos e as suas histórias são sobretudo inspirados pelo que vem do exterior. Não será por acaso que ela passa grande parte do seu dia sentada junto a uma janela... No entanto, todas as realidades paralelas que ela vai criando no refúgio de sua casa reflectem, acima de tudo, os seus próprios sentimentos: a solidão, a insegurança, a reduzida auto-estima, o desejo, ou a falta dele.
Chega-se a um ponto em que se cria mais empatia e carinho com as personagens que a rodeiam (ficcionadas ou reais) do que com a propria protagonista. Sobretudo quando percebemos que estamos só perante mais um caso de um casamento que caiu na rotina e entrou em ruptura. Uns dos sinais mais evidentes desse facto é quando a exploração da intimidade do outro já não se faz por qualquer indício de desejo, mas por suspeitas de infidelidade - como aquela cena em que ela, aproveitando o marido no banho, decide abrir o seu saco de desporto para cheirar a sua roupa.
Este “Blind”, do norueguês Eskil Vogt, é mais uma prova de que o cinema escandinavo está (muito) bem e recomenda-se.