Entre os
devaneios e os sonhos de uma cega, desenvolve-se o drama de uma
mulher naquelas condições. Ela nunca sai do seu apartamento - apesar dos
incentivos de um marido ausente e “workaholic” para que faça o contrário - mas
os seus pensamentos e as suas histórias são sobretudo inspirados pelo que vem
do exterior. Não será por acaso que ela passa grande parte do seu dia sentada
junto a uma janela... No entanto, todas as realidades paralelas que ela
vai criando no refúgio de sua casa reflectem, acima de tudo, os seus próprios
sentimentos: a solidão, a insegurança, a reduzida auto-estima, o desejo, ou a
falta dele.
Chega-se a um ponto em que se cria mais empatia e carinho com as personagens que a rodeiam (ficcionadas ou reais)
do que com a propria protagonista. Sobretudo quando percebemos que estamos só perante
mais um caso de um casamento que caiu na rotina e entrou em ruptura. Uns dos
sinais mais evidentes desse facto é quando a exploração da intimidade do outro
já não se faz por qualquer indício de desejo, mas por suspeitas de infidelidade
- como aquela cena em que ela, aproveitando o marido no banho,
decide abrir o seu saco de desporto para cheirar a sua roupa.
Este “Blind”, do
norueguês Eskil Vogt, é mais uma prova de que o cinema escandinavo está (muito) bem e
recomenda-se.
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