segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Adultos em crescimento


“Little Children”, título original, ou “Pecados íntimos”, na versão nacional, é um filme incómodo. Nem quero imaginar a quantidade de pessoas presentes naquela sala de cinema, onde fui ver este magnífico filme, que se reviram em qualquer um dos protagonistas da história.
Parece, à partida, um filme feito de encomenda para pessoas à beira da ruptura (qual terapia de grupo!), saturados com a sua vida familiar cheia de rotinas e de vícios, tudo aparentemente normalizado. Em “Little Children”, torna-se óbvio que estes “donos(as) de casa desesperados(as)” necessitam “desesperadamente” de algo mais para lhes dar algum ânimo e outro sentido às suas (tristes) existências. O adultério poderá ser uma solução? Aparentemente sim. Mas na derradeira parte do filme, quando todos julgávamos que a felicidade tinha sido alcançada com um caso extraconjugal, e que este poderia ser, de facto, a alternativa óbvia a uma vida familiar cinzenta, o seu argumentista, surpreendentemente, decide que as suas personagens tomem um outro rumo, no sentido de explorar as verdadeiras causas das suas angústias e frustrações. Em resumo, uma preciosa lição de vida para quem embarque nesta verdadeira aventura cinematográfica. É que afinal, os tais “pecados íntimos”, que alguém teve a infelicidade de lhes chamar e de nomear um filme destes, não passam de um mero pretexto para que os seus “pecadores” (e nós) entendam(os) que os problemas pessoais não se resolvem com traições ou com outros tipos de “pecados”. Para além de que é habitual, quando algo não funciona e comecem os conflitos, em vez de assumirmos as nossas próprias culpas e fragilidades, preferirmos, antes, descartar as responsabilidades para cima de algo tão abstracto como o “casamento”, o “casal”, a “relação”, o “pedófilo”, ...
Aprende-se tanto com este filme. Sempre que o seu narrador comentava, ficava na dúvida se estava a contemplar um documentário sobre a vida de uma nova espécie de macacos (algures no meio de uma floresta na América Latina) no Discovery Channel, ou a assistir a um filme com seres humanos idênticos a todos nós.
Então o que mais nos ensina, em concreto, esta película?
Que às vezes é preciso ver e ouvir as crianças para nos entendermos como adultos, que é preciso sermos imaturos e irresponsáveis para sabermos crescer, que é preciso sacrificar alguma coisa ou alguém para sabermos, não só o seu verdadeiro valor mas, o quanto realmente valemos.
No fim, para os mais pragmáticos, aqueles que se acomodam à vida que não queriam ter (caramba, o meu post sobre as “filas de trânsito” faz aqui tanto sentido), o narrador ainda tem tempo para lhes dizer: “Não podemos fazer nada com o nosso passado, mas com o futuro já é outra história. E terá que se começar em qualquer lugar.” Num parque infantil, como em “Little Children”, ou em qualquer outro sítio. Depois é preciso saber crescer e evoluir e não ficar por lá eternamente, como Brad, no parque dos skaters.

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