segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Esta gente das filas


Quando passo ao lado daquelas filas de quilómetros de carros, para além da grande sensação de alívio (por lá não estar), penso o quanto distante estou desta “gente das filas”. É também nestes momentos que percebo que nasci demasiado rebelde e contestatário para me manter alinhado em filas ou para ter uma vida com uma trajectória pré-definida.
A vida pode ser feita de opções e quando há mesmo essa possibilidade... escolhe-se. E para evitar tal “fado”, por entre outras razões, acabei por escolher viver e trabalhar fora de Lisboa. Se não tivesse essa possibilidade de escolha e tivesse mesmo que trabalhar na capital, optaria por usar um transporte público ou ir de mota. Há sempre outras opções! Sei que há uma que nunca optaria: a (evitável) fila.
Até poderia haver dezenas de atalhos e percursos alternativos, que qualquer uma destas pessoas acabaria por optar (inconscientemente?) pelo caminho habitual, mesmo sabendo que lá mais à frente irá ser inevitável o abrandamento e a paragem, simplesmente porque não foi a única a não quebrar a rotina. Todos os dias é a mesma coisa, sempre com uma vaga esperança de que é naquele dia que tudo vai melhorar. Casos sem redenção possível de pura ilusão ou de um optimismo frustrante?
As pessoas não mudam, os seus problemas também não. Minto. Elas mudam. Mudam de faixa de rodagem porque acham que a outra anda sempre mais depressa. E é esse o seu maior desafio. Para estes indivíduos, os congestionamentos deixaram de ser um problema e passaram a ser um autêntico modo de vida.
Esta imensa maioria que opta sempre pelos mesmos caminhos e que está dependente de uma valente dose de “calor humano” para sobreviver, é a mesma que organiza autênticas “excursões” e passeatas para os centros comercias, que faz do parque das nações, ao fim-de-semana, uma feira popular sem carrosséis, da Caparica, no Verão, um verdadeiro inferno (mesmo sem estar muito calor) e da inauguração de uma ponte, um acontecimento para a posteridade – e porque não parar e tirar umas fotos? Parece que agora nem os museus escapam.
Intimidam-se com o desconhecido e acham que os riscos só lhes dão prejuízo. Gente de hábitos e tradições inquebráveis, que fazem das “regras” que lhes foram incutidas desde criança e da “lei” popular, o seu código civil. Nada se questiona, nada se coloca em causa, tudo lhes parece demasiado óbvio para tal. Acomodando-se, seguem pelo caminho, certo ou errado (para eles será sempre o certo, se têm à sua frente toda uma imensidão de pessoas que optaram pelo o mesmo, logo, só poderão estar no correcto!), previamente definido e delineado, nem sempre pelos próprios. Como uma fila de trânsito.

3 comentários:

AlfaBeta disse...

O trãnsito, esse mal terrível.

Anónimo disse...

Senso comum

agent disse...

É isso. O senso comum, mesmo sendo imprescindível, não é suficiente para compreendermos o mundo que nos rodeia e até a nós próprios. Se limitamos a deixar-nos guiar pelo o senso comum, que é como quem diz: os dados mais básicos da nossa consciência natural, facilmente caímos na ilusão de que as coisas são exactamente aquilo que parecem e nunca chegamos a perceber que existe uma radical diferença entre uma aparência e uma realidade.