sábado, janeiro 19, 2008

Admiráveis seres

Admiro a coragem do transexualismo, transformismo e fenómenos similares. Alguém que não teme as consequências de uma sociedade preconceituosa e estereotipada e segue pelo difícil caminho de assumir para si e para os outros que nasceu com o sexo errado. Há quem faça disso um “hobby”, mas também há quem tome uma decisão definitiva e faça dela uma mutação integral e (quase) definitiva, com as consequentes transformações no seu próprio corpo. O passo heróico reside aqui: um homem consegue facilmente adquirir comportamentos e características femininas (e vice-versa), mas não alcançará as formas físicas do (tão desejado) sexo oposto com a mesma facilidade.
A maioria destas pessoas faz do milagre da transformação dum corpo o melhor remédio para o apaziguamento da sua alma. Uma alma que até então não se coadunava com o que via à frente do seu espelho. Serei eu o único a achar maravilhosa essa forma de arte de endeusamento do mundo do sexo oposto, transformando-se nele? Não serei certamente, mas também sei que, para muitos, eles/elas nunca deixarão de ser “aberrações da natureza” - mesmo que isso não seja impedimento para que estes “perturbantes seres” façam parte das suas mais recônditas fantasias sexuais, aliás, é melhor nem imaginar a percentagem de homens, seguríssimos da sua heterossexualidade, que não se importavam de serem “desenrascados” por um travesti. (O sexo é orientado pela “psico” do próprio e, simultaneamente, pelos comportamentos dos outros.)
Estranho, no entanto, quem limite a sua mudança ao/pelo sexo. Um sexo pode legitimamente incorporar ou transformar-se noutro por pura satisfação de fantasias e da realização dos seus mais íntimos desejos, mas tal pode ser também, tão-somente, a mais perversa e perigosa forma das obsessões: a de dar prazer a alguém do mesmo sexo, transformando-se no (sexo) oposto – só porque a sociedade assim o regrou como “normal”. É aqui que coloco as minhas reticências sobre o “fenómeno” destes admiráveis seres. Quando estes homens/mulheres não querem ser mulheres/homens por eles, mas pelos outros. Valerá mesmo a pena?

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