quinta-feira, janeiro 10, 2008

"Ou o amor ou os deslizes. E deslizes no amor dá qualquer coisa como dois infelizes."

(...)
Vários amigos meus estão agora a separar-se. Lamento por eles, porque há também um bocadinho de mim que morre com o amor que nunca foi meu mas que vi nascer. É definhar. Assistir ao fim do amor mata-me.(...)
O amor comporta muitos sacrifícios, mas depois há um dia em que acordamos e aquela força parva que nunca esteve do nosso lado acorda connosco e deperta para nunca mais adormecer.(...)
Os meus amigos eram quase perfeitos no amor, ou na ideia que temos dele. Não fossem os deslizes. E os deslizes são graves. Ela desculpou o primeiro, não quis ver o segundo, chorou o terceiro, arrependeu-se de ter permitido o quarto, e se calhar foi ao quinto que disse: “Chega!”. Por “deslize” não tem que se entender um acto consumado, mas a intenção de cometê-lo. Para mim, e para ela, são igualmente importantes. Enquanto que a pessoa com quem partilhamos a cama está a pensar como vai cometer esse deslize, nós já deixamos de existir na cabeça dela. Ou só existimos porque constituímos um entrave ao acontecimento.
O meu amigo está a sofrer, é verdade. E há uma parte de mim que também é solidária com a sua dor. É que, para ele, os deslizes não tinham importância nenhuma porque ele gosta mesmo é dela. Deslizes e felizes são palavras que rimam na cabeça dele. E curiosamente rimam mesmo. Mas na minha fazem faísca.
A acabar o ano permitam-me estas linhas de filosofia barata, como se eu soubesse escrever outra coisa... O amor bem nutrido compensa mesmo e a fidelidade (por mais que a braguilha torça) é um mal necessário. Ou então já sabem que tudo o que fizeram vão também receber. Eu sei isso tão bem do meu passado recente. Isto não quer dizer que não prevarique... Tenho é consciência que não vou ser poupada pela má sorte.
Ou o amor ou os deslizes. E deslizes no amor dá qualquer coisa como dois infelizes.
Não é tão fácil de perceber o amor?



Parte da crónica de “O Sexo e a Cidália”, de 29 de Dezembro de 2007 NS (DN)

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito boa esta crónica...aliás como (quase)todas que a Cidália escreve.
Vendo assim a coisa "não é tão fácil de perceber amor?"
Là, je doute...