A edição do passado sábado do Público veio com uma notícia de duas páginas sobre os tratamentos para alteração da orientação sexual. O texto (“Tratamentos para alterar orientação sexual não são uma coisa do passado”) da jornalista Andreia Sanches vem acompanhado com declarações de vários terapeutas, onde todos eles debruçam-se sobre este assunto polémico. Só que no meu entender é logo aqui que reside toda a incoerência do problema: o assunto não chega a ser polémico pois é descabido, ou mesmo, absurdo. Mas, ainda assim, tento compreender as boas intenções daquelas palavras.
Dizer que há um estudo recente onde se revela que 17% dos profissionais de saúde mental britânicos assumiu já ter tentado “reorientar” lésbicas, gays e bissexuais vale tanto como dizer que há ainda por aí uma minoria de dentistas que brocam os dentes dos seus clientes sem anestesia. E porque não vamos lá todos sentir in loco se a coisa dói assim tanto? Sim, vamos lá demonstrar todos porque é que uma incompetência é uma incompetência, não vá andarmos todos enganados.
Haver “pacientes” a achar que podem mudar de orientação sexual como quem muda de camisa ou com a intervenção da terapia cognitiva comportamental ainda acho razoável, mas haver um presidente de uma Sociedade Portuguesa da Psiquiatria e Saúde Mental ou um presidente da Direcção do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos que pensem o mesmo é que me parece mais gravoso.
(Relembre-se: desde 1973 que a Associação Americana de Psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade como patologia. A mesma associação que, inclusive, recomenda que os seus médicos abstenham de tentar mudar a orientação sexual dos indivíduos “desorientados”.)
Com alguma ignorância e homofobia à mistura, gente supostamente responsável na especialidade de psiquiatria em Portugal debita afirmações graves. Por outro lado, há hipocrisia por não se querer ir às causas desta questão. Não seria mais proveitoso se estes psiquiatras, em vez de quererem aumentar a sua facturação e perder tempo com curas milagrosas de homossexuais arrependidos, preocupassem-se mais em integrar estas pessoas, já que o “problema” não está na homossexualidade em si mas na forma como esta sociedade a encara? Só tal justifica o facto de não haver um único registo de um heterossexual a ir ao médico a pedir para ser gay, como diz e muito bem Gabriela Moita. Aliás, tinha que vir uma psicóloga destoar, nesta peça jornalística, com o seu bom senso. É preciso ter “descaramento”! Ainda por cima, para afirmar que “não há nenhum tratamento que tenha levado algum ser humano a conseguir decidir de quem gosta ou de quem vai deixar de gostar”. Cara Gabriela: se não há, os nossos psiquiatras vão tratar já do assunto. Se a coisa não for lá com electrochoques, nada que uma ida-ao-Colombo-ver-gajas-boas não resolva.
Dizer que há um estudo recente onde se revela que 17% dos profissionais de saúde mental britânicos assumiu já ter tentado “reorientar” lésbicas, gays e bissexuais vale tanto como dizer que há ainda por aí uma minoria de dentistas que brocam os dentes dos seus clientes sem anestesia. E porque não vamos lá todos sentir in loco se a coisa dói assim tanto? Sim, vamos lá demonstrar todos porque é que uma incompetência é uma incompetência, não vá andarmos todos enganados.
Haver “pacientes” a achar que podem mudar de orientação sexual como quem muda de camisa ou com a intervenção da terapia cognitiva comportamental ainda acho razoável, mas haver um presidente de uma Sociedade Portuguesa da Psiquiatria e Saúde Mental ou um presidente da Direcção do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos que pensem o mesmo é que me parece mais gravoso.
(Relembre-se: desde 1973 que a Associação Americana de Psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade como patologia. A mesma associação que, inclusive, recomenda que os seus médicos abstenham de tentar mudar a orientação sexual dos indivíduos “desorientados”.)
Com alguma ignorância e homofobia à mistura, gente supostamente responsável na especialidade de psiquiatria em Portugal debita afirmações graves. Por outro lado, há hipocrisia por não se querer ir às causas desta questão. Não seria mais proveitoso se estes psiquiatras, em vez de quererem aumentar a sua facturação e perder tempo com curas milagrosas de homossexuais arrependidos, preocupassem-se mais em integrar estas pessoas, já que o “problema” não está na homossexualidade em si mas na forma como esta sociedade a encara? Só tal justifica o facto de não haver um único registo de um heterossexual a ir ao médico a pedir para ser gay, como diz e muito bem Gabriela Moita. Aliás, tinha que vir uma psicóloga destoar, nesta peça jornalística, com o seu bom senso. É preciso ter “descaramento”! Ainda por cima, para afirmar que “não há nenhum tratamento que tenha levado algum ser humano a conseguir decidir de quem gosta ou de quem vai deixar de gostar”. Cara Gabriela: se não há, os nossos psiquiatras vão tratar já do assunto. Se a coisa não for lá com electrochoques, nada que uma ida-ao-Colombo-ver-gajas-boas não resolva.
3 comentários:
Bom, um assunto polêmico, não é? Para mim, a orientação sexual é uma escolha da pessoa ou uma inclinação que se desenvolve por vontade própria. Mas vou ser bem humilde e perguntar: o que se define hoje modernamente como uma "orientação sexual"? Parece que a área de estudos sobre o tema está mais adiantada que a mentalidade médica.
Olá Valeria. Ser considerado uma "escolha" também pode ser polémico, já que não se escolhe ser straight, gay ou bi, como se escolhe a Sagres em detrimento da Super Bock, percebes? E até há hipótese de nem gostares de cerveja...
A tua questão faz todo o sentido. Os estudos sobre estes temas acabam por reflectir com maior precisão e realismo a actualidade, o que acaba por lhes dar um maior reconhecimento, bem distante das certezas dogmáticas da comunidade médico-científica.
A nossa realidade vai ainda mais longe, quando já para muitas pessoas (adultas) a orientação sexual não passa de uma catalogação dispensável, pois sabem que o que interessa acima de tudo é a atracção/química, independentemente do seu sexo. Não seríamos todos mais felizes/menos frustados assim?
Um "frustado" sem R fica ainda mais frustrado.
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