terça-feira, janeiro 03, 2012

A incoerência de um certo moralismo

Nas últimas semanas o País foi invadido pela foto de um cadáver nu de uma mulher horrivelmente espancada. Em revistas, outdoors, até no exterior de autocarros todo o Portugal foi confrontado com esta imagem de terrível violência. Quem terá feito tal barbaridade à pobre senhora? Não só os golpes mas a suprema infâmia de ser exposta desta forma inqualificável?

Aquela infeliz deve ter tido uma vida difícil, sofreu morte horrível, mas nem depois de morta conseguiu o respeito mínimo devido ao ser humano, sendo vergonhosamente explorada. Com a cara visível, identificável por conhecidos, a desgraçada sofreu uma das sortes mais lastimáveis. Até nos filmes violentos os cadáveres costumam ser tapados, filmados lateralmente, ao menos com a cara coberta. Aqui a obscenidade e degradação não conheceram limites, nem sequer na divulgação. Em todo o lado e circunstância, todo o País, incluindo crianças e pessoas impressionáveis, é forçado a contemplar esta imagem sumamente repulsiva.



O que mais me surpreende é o autor deste manifesto pro-outdoors-só-com-imagens-bonitinhas, suprassumo da moralidade portuguesa e economista nas horas vagas, nunca ter escrito (pelo menos que eu tivesse lido) uma linha sobre as imagens “pouco católicas” que abundam (nunca tal palavra foi tão bem empregue) as páginas de anúncios eróticos do diário (entre outros) para qual escreve. As “crianças e as pessoas impressionáveis” não vêem as páginas centrais dos jornais ou o Código da Publicidade é mais importante que o Código Penal (Artigo 170.º - Lenocínio)?
Pensando melhor, isto não me devia surpreender assim tanto, já que “não há almoços grátis”.

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