sábado, novembro 24, 2012

Os ricos também têm coração




The Queen of Versailles é um documentário que acompanha, ao longo de mais de dois anos, a vida luxuosa do bilionário David Siegel, dono de uma das maiores de empresas americanas de time-sharing (“Westgate Resorts”) e da sua esposa, “ex-miss Florida’ 93”, trinta anos mais nova que ele. Uma das suas mais recentes excentricidades é a construção da “Biggest House In America”, que será a nova morada deste casal, das suas 8 crianças (7 filhos e uma sobrinha), dos seus inúmeros cães (entre outros animais mais ou menos exóticos: vê-se várias fotos de David com um leão e um tigre branco), empregados, ... Uma grande mansão inspirada em Versailles, com mais de 8000 metros quadrados!

Tudo isto leva a crer que o filme foca-se exclusivamente nos excessos de uma família que vive abastadamente o seu “american dream”. Também, mas não só. Assim começa, pelo menos. Entretanto chegamos a Setembro de 2008, mais precisamente ao momento-chave da última grande crise financeira. Relembro que grande parte do rendimento desta família provém das receitas do negócio de time-sharing. Negócio este demasidado dependente do crédito bancário, que, como todos bem sabemos, deixou de ser o mesmo desde esses malogrados dias.

A partir daqui, nada mais será como dantes para esta família. São estas transformações que tornam este filme brilhante. Ou seja, parte-se de algo previsível (um casamento de interesses e uma família fútil e materialista - pensamos nós que assim é) que se vai descontruindo em algo totalmente surpreendente e atípico, sobretudo para ambientes “familiares” desta natureza. Vai-se revelando o lado mais intimista e sentimental daquele casal em “crise” (em todos os sentidos) e isso faz-nos estabelecer uma certa cumplicidade para com eles. Não chegamos a ver momentos de desespero, mas eles chegam a partilhar algumas “pseudo-zangas” por causa da “luz acesa” desnecessária e muitos momentos caricatos. Como aquele em que se descobre, num aquário, um “lagarto” (pareceu-me ser uma iguana) morto, sem água e sem comida (supostamente essa fazia parte das responsabilidades de alguma das muitas criadas entretanto despedidas). “Quem é que matou o lagarto?” – pergunta a mãe aos actuais habitantes da casa. Um dos filhos aproxima-se, olha para o interior do aquário e diz: “Eu nem sabia que tinhamos um lagarto”.

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