terça-feira, janeiro 02, 2007

Carolina

Carolina, a recém-nascida abandonada com poucos dias de vida numa casa-de-banho do centro comercial Dolce Vita, no Porto, para além de ser o bébé do ano do Hospital S. João (aonde se encontra neste momento de boa saúde), obriga-nos a meditar já sobre as nossas escolhas a curto prazo.
Se o “sim” vencer no referendo a realizar no próximo mês, todas as pessoas irresponsáveis não passarão a ser nem mais nem menos irresponsáveis – e o único aspecto que me incomoda nelas é o facto terem essa faculdade (inconsciente?) de gerar novas vidas – mas no entanto, sabemos todos que há pelo menos a hipótese de corrigir, legalmente e no nosso país, certos actos irresponsáveis por si cometidos, para o qual alguém, como a Carolina ou Sara (a criança de dois anos morta a semana passada, alegadamente vítima de contínuos maus tratos), nenhuma culpa têm.

Ouvi por alto ontem, nas notícias, parte dos discursos de Papa Bento XVI e do Bispo D. Policarpo na comemoração do dia mundial da paz, em que um dos principais assuntos focados foi... o aborto (?) – as analogias da igreja dos dias de hoje são, no mínimo, espantosas. “Direito à vida... direitos humanos... falta de respeito pela vida embrionária... atentado à paz... terrorismo... a vida não é um bem arbitrário, de que se possa dispor ao sabor de políticas e interesses pessoais, ou mesmo de sofrimentos inevitáveis...”.

Que estupidez a minha, por sensibilizar-me mais com uma vida humana que mal teve tempo para conseguir abrir os olhos e muito menos para perceber o que é ter direito à vida, e ser confrontada logo, indefesa, com a pior das crueldades e cobardias que alguém se pode sujeitar, do que uma dúzia de expressões fortes dentro de bonitas frases feitas provenientes de homilias.

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