Nas décadas de 40/50, um homem chocou o mundo ao estudar o comportamento sexual humano como os outros animais na sua cadeia evolutiva. Os problemas para a sociedade mais conservadora americana começaram quando esse homem, zoólogo, cientista, Alfred C. Kinsey (1894-1956), decidiu deixar registado todos os resultados das suas pesquisas em livros e vídeos.
Um dos resultados “chocantes”, por exemplo, foi de que o sexo no matrimónio, o único que seria socialmente aceite por todos à época, era só uma das nove maneiras que o americano típico usava para chegar ao orgasmo. “Sexual Behavior in the Human Male” (1948) foi o seu primeiro livro editado, sobre o tema, com base nas suas primeiras pesquisas e com o apoio da prestigiada Fundação Rockefeller.
“Um cientista só generaliza com algum grau de certeza se possuir suficiente informação estatística”, dizia ele. Por isso dividiu a população americana em 200 subgrupos sociais; obtendo 400 a 1000 historiais para cada grupo, com o objectivo final de conseguir fazer cerca de 100.000 entrevistas, cara-a-cara, com o auxílio de um grupo de técnicos especializados e previamente preparados.
O maior interesse destes estudos estaria no facto de incidir sobre um país que sempre teve a cultura mais libertina do mundo (desde da época Romana) e simultaneamente a mais puritana. Kinsey sabia disso e achou que esta fonte de tensões poderia ser usado a favor das suas experiências e tornaria os seus resultados ainda mais curiosos.
Kinsey era um homem de gráficos, grelhas e números. Um dos seus contributos para o léxico americano sobre sexo foi a “Escala de Kinsey”. Classificação da sexualidade de cada um numa escala de 0 a 6, em que o 0 significaria “exclusivamente heterossexual” e o 6 “exclusivamente homossexual”. Esta escala é baseada na teoria de que a sexualidade é um continuum. Ele que, classificava-se em 3 na sua escala, considerava a bissexualidade como o estado natural da sexualidade humana. Não deixa de ser interessante que este, entre outros, continue actualmente a ser um tema tão polémico. Kinsey, hoje em dia, continuaria a ter muitas dificuldades em defender a sua escala, nomeadamente junto de uma comunidade gay e hetero mais relutante em aceitar a existência de “meio termos”, ou seja, da bissexualidade.
Na mesma proporção que para muitos, Kinsey foi uma figura seminal do século XX, para outros, ele não passou de um predador que gostava de chafurdar no “lixo das depravações”, chamando-lhe a isto, “ciência do sexo”. Entrevistou um pedófilo assumido, criminosos sexuais e encorajava os seus subordinados a trocarem de mulheres. Como basta “pecar” por uma parte para que o seu todo seja afectado, tal acabou por facilitar o trabalho de descredibilização das suas teorias junto de várias organizações ultraconservadoras americanas. Para estes, Kinsey, nunca passou de um doente mental que só se interessava por actividades sexuais bizarras e sadomasoquistas. Muito menos nos deve surpreender que assim seja, se pensarmos que a América dos “bons e velhos costumes” tinha acabado de descobrir que 92% dos seus homens e 62% das suas mulheres se masturbava com regularidade, 50% dos casados tinham sexo extra-conjugal e que 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido pelo menos uma relação homossexual. Para o Instituto Kinsey, actualmente isto continuam a ser dados científicos, tudo o resto que seja dito sobre o seu autor, não passam de puras especulações com intuitos descredibilizantes.
De uma das suas aulas sobre a sexualidade humana na Universidade de Indiana, onde conheceu a mulher com quem esteve casado durante 35 anos e lhe deu quatro filhos e onde fundou o Instituto de Pesquisa sobre o Sexo (hoje chamado Instituto Kinsey), retirei um fragmento do seu discurso, que também pode ser encontrado, em parte, no filme “Relatório Kinsey” de Bill Condon:
Muita gente acha que faz sexualmente o que todos fazem, ou que deviam fazer. Mas faço notar que todas as ditas perversões sexuais, caem sobre a alçada da normalidade biológica. Por exemplo, a masturbação, o contacto bocal-genital e actos homossexuais que são comuns entre a maioria dos mamíferos, incluindo os seres humanos. Talvez a sociedade condene as tais práticas por razões morais mas é ridículo classificá-las como antinatura. Mas com base na opinião pública e no Livro de Géneses, apenas existe uma correcta equação sexual: Homem + Mulher = Bébé; tudo o resto constitui vício. Mas basta verificar apenas o historial masturbatório dos homens desta sala para provar a ineficácia das restrições sociais e o imperiosas que são as exigências biológicas.
Porque são algumas vacas activas sexualmente enquanto outras se limitam a ficar por ali a pastar? Porque precisam alguns homens de trinta orgasmos por semana e outros, nenhum? Por toda a gente ser diferente. O problema está na maioria querer ser igual. Acham mais fácil ignorar simplesmente este aspecto fundamental da condição humana. Têm tais ânsias de ser parte do grupo que traem a própria natureza para lá chegar.
O problema surge porque se uma coisa der prazer ou for fortemente desejada mas proibida, ela torna-se numa obsessão.
Pensem nisso.
Um dos resultados “chocantes”, por exemplo, foi de que o sexo no matrimónio, o único que seria socialmente aceite por todos à época, era só uma das nove maneiras que o americano típico usava para chegar ao orgasmo. “Sexual Behavior in the Human Male” (1948) foi o seu primeiro livro editado, sobre o tema, com base nas suas primeiras pesquisas e com o apoio da prestigiada Fundação Rockefeller.
“Um cientista só generaliza com algum grau de certeza se possuir suficiente informação estatística”, dizia ele. Por isso dividiu a população americana em 200 subgrupos sociais; obtendo 400 a 1000 historiais para cada grupo, com o objectivo final de conseguir fazer cerca de 100.000 entrevistas, cara-a-cara, com o auxílio de um grupo de técnicos especializados e previamente preparados.
O maior interesse destes estudos estaria no facto de incidir sobre um país que sempre teve a cultura mais libertina do mundo (desde da época Romana) e simultaneamente a mais puritana. Kinsey sabia disso e achou que esta fonte de tensões poderia ser usado a favor das suas experiências e tornaria os seus resultados ainda mais curiosos.
Kinsey era um homem de gráficos, grelhas e números. Um dos seus contributos para o léxico americano sobre sexo foi a “Escala de Kinsey”. Classificação da sexualidade de cada um numa escala de 0 a 6, em que o 0 significaria “exclusivamente heterossexual” e o 6 “exclusivamente homossexual”. Esta escala é baseada na teoria de que a sexualidade é um continuum. Ele que, classificava-se em 3 na sua escala, considerava a bissexualidade como o estado natural da sexualidade humana. Não deixa de ser interessante que este, entre outros, continue actualmente a ser um tema tão polémico. Kinsey, hoje em dia, continuaria a ter muitas dificuldades em defender a sua escala, nomeadamente junto de uma comunidade gay e hetero mais relutante em aceitar a existência de “meio termos”, ou seja, da bissexualidade.
Na mesma proporção que para muitos, Kinsey foi uma figura seminal do século XX, para outros, ele não passou de um predador que gostava de chafurdar no “lixo das depravações”, chamando-lhe a isto, “ciência do sexo”. Entrevistou um pedófilo assumido, criminosos sexuais e encorajava os seus subordinados a trocarem de mulheres. Como basta “pecar” por uma parte para que o seu todo seja afectado, tal acabou por facilitar o trabalho de descredibilização das suas teorias junto de várias organizações ultraconservadoras americanas. Para estes, Kinsey, nunca passou de um doente mental que só se interessava por actividades sexuais bizarras e sadomasoquistas. Muito menos nos deve surpreender que assim seja, se pensarmos que a América dos “bons e velhos costumes” tinha acabado de descobrir que 92% dos seus homens e 62% das suas mulheres se masturbava com regularidade, 50% dos casados tinham sexo extra-conjugal e que 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido pelo menos uma relação homossexual. Para o Instituto Kinsey, actualmente isto continuam a ser dados científicos, tudo o resto que seja dito sobre o seu autor, não passam de puras especulações com intuitos descredibilizantes.
De uma das suas aulas sobre a sexualidade humana na Universidade de Indiana, onde conheceu a mulher com quem esteve casado durante 35 anos e lhe deu quatro filhos e onde fundou o Instituto de Pesquisa sobre o Sexo (hoje chamado Instituto Kinsey), retirei um fragmento do seu discurso, que também pode ser encontrado, em parte, no filme “Relatório Kinsey” de Bill Condon:
Muita gente acha que faz sexualmente o que todos fazem, ou que deviam fazer. Mas faço notar que todas as ditas perversões sexuais, caem sobre a alçada da normalidade biológica. Por exemplo, a masturbação, o contacto bocal-genital e actos homossexuais que são comuns entre a maioria dos mamíferos, incluindo os seres humanos. Talvez a sociedade condene as tais práticas por razões morais mas é ridículo classificá-las como antinatura. Mas com base na opinião pública e no Livro de Géneses, apenas existe uma correcta equação sexual: Homem + Mulher = Bébé; tudo o resto constitui vício. Mas basta verificar apenas o historial masturbatório dos homens desta sala para provar a ineficácia das restrições sociais e o imperiosas que são as exigências biológicas.
Porque são algumas vacas activas sexualmente enquanto outras se limitam a ficar por ali a pastar? Porque precisam alguns homens de trinta orgasmos por semana e outros, nenhum? Por toda a gente ser diferente. O problema está na maioria querer ser igual. Acham mais fácil ignorar simplesmente este aspecto fundamental da condição humana. Têm tais ânsias de ser parte do grupo que traem a própria natureza para lá chegar.
O problema surge porque se uma coisa der prazer ou for fortemente desejada mas proibida, ela torna-se numa obsessão.
Pensem nisso.
2 comentários:
Post interessante. Já tinha visto um documentário sobre esse senhor na tv cabo.
Acho uma personalidade muito interessante pois não se limitou a proclamar as suas teorias, como acabou por comprova-las com uma base científica rigorosa. Por isso penso que não me posso ficar por um post e terei que voltar a ele, para falar, nem que seja, do seu controverso segundo livro sobre a sexualidade humana, desta vez abordando um dos grandes temas tabus da altura (e de sempre, aliás): a sexualidade feminina. E não me posso esquecer de transcrever as suas polémicas palavras que fizeram com que a Fundação que financiava as suas pesquisas o mandasse, literalmente, voltar a apanhar vespas.
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