segunda-feira, abril 09, 2007

Actor completo


Fiquei deveras espantado com a interpretação de Christian Bale no filme “O Maquinista” (de Brad Anderson), que só agora tive oportunidade de ver em DVD. Para além da fabulosa interpretação deste actor, é impressionante a forma como o seu corpo se transformou numa espécie de esqueleto andante. A magreza do protagonista principal é um dos pontos marcantes deste filme e o realizador soube tirar partido dela, mostrando-a sem censura e moderação. Ora conhecendo este actor (e o seu corpo) de outros filmes como “Psicopata Americano”, “Batman - O Início”, “Shaft”, “Equilibrium”..., a minha estupefacção torna-se ainda maior. É caso para se perguntar: entre a sua performance e esta capacidade de auto-transformar o seu corpo, com que proporção se avalia a qualidade de um actor?
Bill Murray é um actor de culto e no entanto não me parece que seja muito versátil, parece-me aliás que salta de filme para filme e a única coisa que faz é ter que estudar o guião e trocar de guarda-roupa. O consagrado Jack Nicholson também. Por exemplo, já a lindíssima Charlize Theron surpreendeu tudo e todos quando sacrificou o seu belo corpo para interpretar o difícil papel de uma prostituta psicopata em o “Monstro” (Patty Jenkins). Estava irreconhecível. Valeu-lhe o óscar para melhor actriz e uma das interpretações mais marcantes de sempre do cinema americano. Por falar em grandes interpretações, óscares e sacrifício do corpo (mas que nunca chega ao extremismo do corpo esquelético de Bale), também se torna inevitável fazer referência a Adrien Brody em “O Pianista” de Roman Polanski. Atenção, não estou a falar de efeitos especiais ou de caracterização a la Eddie Murphy, mas dessa capacidade de mutação ou sacrificar o seu próprio corpo em prol de uma encarnação integral de um personagem. Tal não está altura de qualquer actor e o cachet que paga um sacrifício deste calibre não envolve só dinheiro mas também entrega, dedicação e amor sem limites ao trabalho que se tem.
Neste momento não me incomoda tanto a injustiça de Christian Bale não ter um óscar a decorar a lareira de sua sala, mas muito mais a sua imagem na minha memória com aquelas vértebras e costelas assustadoramente salientes, a dois milímetros de romperem a pele.

Sem comentários: