Passeio, numa noite de fim-de-semana, pelas ruas movimentadas de uma zona de bares de Lisboa. Há claramente uma predominância de adolescentes entre os noctívagos. A idade deles só me é revelada pelos comportamentos e diálogos que mantêm entre si. De resto: vestem-se, bebem e fumam como adultos. Nada disto será novidade para ninguém, muito menos para quem os educa.
Nota-se que há uma maior preocupação com a aparência entre as raparigas. Uma certa vaidade para captar a atenção do maior número de rapazes e/ou simplesmente por uma questão de integração no grupo. Percebo que já não basta idolatrar os actores dos “Morangos”, há que agir como eles.
Vou ser saudosista: no meu tempo, por estas idades, não me recordo de haver este tipo de pressão com a imagem que se passava para o exterior. Havia, sempre houve, grupos e também era “fixe” fazer parte deles. Mas era uma “cena” mais despreocupada, mais infantil. Com o grunge na berra quem é que tinha tempo para se preocupar em ser muito sexy? Não tínhamos novelas descartáveis mas tínhamos uma MTV cheia de ideais saltitantes. Mas porra: ter sex appeal aos 14 anos? Chega-se aos 25 com vontade de ter netos, não?
Esta ansiedade de querer viver muito para além da idade real, também se reflecte no excesso de consumismo destes jovens. Os bens materiais a que hoje em dia os adolescentes das classes média e alta têm acesso, são lhes demasiado facilitados pelos pais. Um i-pod, umas jeans da salsa ou da timberland, o último modelo de telemóvel, uma acelera nova, ... Tudo parece-me facilmente atingível, sem qualquer esforço e sem qualquer contrapartida - que lição de vida um adolescente pode retirar daqui?
Os pais, descartando das suas principais funções enquanto progenitores, limitam-se a pagar. Isso salvar-lhes-á da (má) consciência de serem uns educadores cada vez mais ausentes.
Mais grave que se criar uma geração de putos e “pitas” exageradamente mimados e remediadamente amados, é perceber como se encara, presentemente, uma família. Já não se olha para uma família como uma forma de obter amor e carinho. Quando os pais comprometem-se a fazer horas extraordinárias só para pagar a viagem a Palma de Maiorca da sua filha adolescente que assim o exigiu, sob pena de fazer uma birra ou sentir-se excluída do clã lá da escola, concluo que há algo nestes novos modelos familiares que parece-me estar a descambar. Retiro, igualmente, um saldo final negativo: mais trabalho, mais ausência, menos partilhas, menos afectos.
Nas classes mais baixas, o saldo pode não ser melhor, já que a ênfase dada aos bens materiais é tanta que quando as pessoas não os têm, ou não os conseguem de qualquer forma obter, sentem-se uns falhados.
No fundo, ter um filho é uma imensa responsabilidade e, acho, mas posso estar inteiramente errado, que as pessoas têm filhos numa idade de ligeira irresponsabilidade.