segunda-feira, maio 26, 2008

Os combustíveis, as alternativas, o apocalipse e um (des)governo

Tendo em conta que as pessoas mantêm as suas vidas comodistas, continuam a entupir todas as manhãs as principais vias de acesso de Lisboa (e, suponho, do Porto), e não usam os transportes públicos ou meios de deslocação mais alternativos, saudáveis e ecológicos, como se tem sugerido (um exemplo: a bicicleta), há quem diga que os preços dos combustíveis ainda não estão suficientemente caros! Só que, convém relembrar:
- Portugal não é Lisboa (e Porto) – pois certamente haverá pequenos negócios na província em risco de colapso caso os preços dos combustíveis não parem de aumentar, e, já agora, que culpa terá alguém que more na Carraspalheira de Baixo que outra pessoa, morando nos arredores da capital, lhe apeteça levar o carro todos os dia para o centro da cidade?... ;
- Que a maioria dos transportes públicos também necessitam de gasóleo para andar e já se fala em aumentos mínimos de 6% a muito curto prazo no preço das viagens;
- E que, a não ser com o intuito de estarmos em forma para participar na próxima “volta a Portugal”, as vias que contornam as colinas de Lisboa são pouco recomendáveis para ciclistas inexperientes. Para além disso: como é que serão fundidas as peças para as bem-aventuradas bicicletas? A fornos alimentados a pedal? E os seus plásticos, como serão produzidos?
Para quem se julga indiferente e distante desta crise e ao contrário de tudo o que se possa pensar: esta descontrolável subida de preços do gasóleo e da gasolina afecta directa ou indirectamente muito mais pessoas e sectores do que se possa previamente imaginar.

Num mundo de certezas onde supostamente o petróleo está por um fio, diz-se que atingiu o pico de procura/oferta, que agora é sempre a descer e que vamos morrer todos se não passarmos a andar de bicicleta; mas, por outro lado, fala-se na exploração de novos e rentáveis campos petrolíferos no Brasil e na Venezuela e que os Russos encontraram recentemente uma fonte quase ilimitada desta energia fóssil a 40 mil pés abaixo do solo, fica-me uma dúvida: quem é que mais proveito tira das teorias apocalípticas que explicam uma crise petrolífera? O cidadão comum que vê o fim do mundo em cada notícia que anuncia a “novidade” que um bem natural é limitado ou os alarmistas/especuladores?
E o nosso Estado, em vez de regular a situação prefere limpar as suas mãos deste assunto e remeter a problemática para quem (como a Autoridade da Concorrência) não tem competências executivas e que pouco pode fazer pelo caso a não ser concluir o óbvio, ao mesmo tempo que vai aconselhando os seus concidadãos a passarem a usar energias alternativas. Portanto: o mesmo Estado fortemente empenhado em renovar o nosso parque automóvel, incentivando o abate de veículos velhos pela compra de novos e que, consequentemente, continua a arrecadar para os seus cofres uma bela quantia em impostos com o negócio da venda de carros, vem agora dizer que o melhor é passarmos a andar de bicicleta eléctrica. É de uma coerência!

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