Uma viagem de avião nunca é uma experiência monótona. Que diga um amigo que, segundo ele, teve relações sexuais com uma desconhecida a bordo de um. Tendo um alto cargo numa empresa pública, ele viaja sempre em executiva e desta vez consta que a sorte, em forma de Afrodite, lhe veio sentar mesmo ao lado. Trocaram poucas palavras ao longo das primeiras horas de viagem, mas sentiu uma certa atracção mútua desde do primeiro momento em que cruzaram olhares. Foi só no período nocturno, quando reinava um silêncio, unicamente cortado pelo barulho dos motores do avião, que tudo aconteceu. Um ambiente muito pouco iluminado e aconchegado pelos cobertores, que aqueciam-lhes os corpos, também ajudou a proporcionar os primeiros toques. Abstraíram-se de tudo à volta e deixaram ser conduzidos pelos desejos. Aparentemente até às últimas consequências. “Fizemos tudo”. “Tudo?” - ainda questionei perplexo. Não quis ser muito curioso, mas mantive a minha cara de espanto face a tanta audácia. “Já viajaste em executiva em aviões de longo curso? Temos mais privacidade que numa praia deserta!” Achei interessante a comparação e fiquei a pensar na eventualidade de tal poder vir a acontecer nas minhas viagens. Face ao meu humilde estatuto, surge-me logo um obstáculo incontornável: só viajo em classe turística. Fico frustrado, desconheço todo aquele intrigante mundo que se fecha literalmente sobre cortinas e já percebi que tem muito mais potencial que o meu. As imagens que fico das minhas mais recentes experiências aéreas são desinteressantes. Bom há sempre alguém que se recusa colocar o cinto de segurança na altura da descolagem, ou que se levanta do lugar antes de se ter dado ordem para tal, alguém que atende o telemóvel, etc., qualquer coisa estúpida para contornar a rotina. Mas de resto só vejo um avião apinhado de pessoas, sentados em lugares desconfortáveis e com um limitadíssimo espaço para esticar qualquer um dos membros. Sinceramente, perante esta situação, aqui também não falta calor humano. Mas é daquele que vem em doses exageradas e muito pouco excitantes. (Mas para os fãs deixo uma dica mais em conta: Metro em hora de ponta!)
Resumindo, um azar nunca vem só. Um pobre para além de não bastar sê-lo, tem muito menos possibilidades de prevaricar com estilo.
Resumindo, um azar nunca vem só. Um pobre para além de não bastar sê-lo, tem muito menos possibilidades de prevaricar com estilo.
1 comentário:
À falta de melhor, tentemo viver a nossa vida em primeira classe sempre que pudermos. Não é preciso muito dinheiro, apenas algum esforço. Abraço!
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