Quando alguém me persegue durante vários Km’s, com o seu carro colado à traseira do meu, em pleno dia e sob o tabuleiro da ponte 25 de Abril, e depois já com ambos os carros lado a lado, em andamento, se inicia um radical processo de engate, inconscientemente diria que se trata de uma experiência divertida, conscientemente diria que é uma insensatez. Tal como a curto prazo entendo ser uma boa receita para um ego debilitado, mas a longo prazo perceberei que quem opta por esta metodologia para tentar conhecer alguém, das duas uma, ou tem o dom da promiscuidade ou está numa daquelas fases de desespero em que se faz qualquer coisa para obter a atenção - razões estas, por si só, justificáveis para carregar a fundo no acelerador, dar uso aos 140 cavalos que me acompanham e desaparecer dali o quanto antes. “Um número de telemóvel serve” e se não me servir a cantiga, não sendo o fim do mundo para ninguém, servirá com certeza para alguém, num outro carro mais à frente.
3 comentários:
Gostei da expressão "dom da promiscuidade".
Que como qualquer dom que se preze deveria ser assumido, mas que raramente o é. E não deveria ser criticado (às vezes até pelos próprios!?). Unicamente criticável deveria ser essa postura pouco honesta com que o promiscuo (não assumido) encara a sua vida sexual: salta de galho em galho, geralmente camuflado com um relacionamento fixo, usando-o como desculpa para não ter que assumir, perante os outros e sobretudo perante si, qualquer outra forma de relação estável, ao mesmo tempo que tal fornece-lhe mais adrenalina para estes escapes. Sem muitas responsabilidades acrescidas, mas sempre com muito sigilo e descrição.
Prefere-se continuar a brincar às relações e usar a mentira para se conseguir obter sexo mais fácil e casual, em vez de se assumir de uma vez por todas essa predisposição inata para fazer do processo de conquista e do jogo de dar e receber prazer (com parceiro/as regularmente diferentes) um modo de vida. Que é tão legítimo como qualquer outro. Quando assumido, lá está.
Discri�o e n�o descri�o, obviamente. O segundo � sempre requerido antes do primeiro.
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